Empresa pública atribui aumentos ao fim de tarifas “altamente subsidiadas” por algumas das autarquias.
“Não podemos fazer nada”. O presidente do conselho de administração da AdRA diz que só pode limitar-se “a registar” as queixas do tecido empresarial motivadas pelo aumento de tarifas de água e saneamento.
Sérgio Lopes estranha a oportunidade das tomadas de posição de associações empresariais da região, atendendo a que “os motivos” da actualização que entrou recentemente em vigor foram “bem explicados” em reuniões prévias.
O aumento assumidamente “importante” resulta, disse o gestor, do fim das tarifas que eram, em alguns casos, “altamente subsidiadas” pelas Câmaras Municipais.
A mudança ocorreu com a integração de serviços municipalizados de nove concelhos na nova empresa participada em 51% pelo grupo Águas de Portugal (AdP).
Nas contas da SEMA – Associação Empresarial de Estarreja, Murtosa, Sever do Vouga e Albergaria-A-Velha, o tarifário aplicado ao comércio, serviços e indústria representa aumento de custos na ordem dos 100 por cento para água e de 300 por cento no saneamento.
Mais a Sul, a Associação Empresarial de Águeda, baseada em “inúmeras reclamações” enviadas por indústrias locais, aponta para “um aumento global da factura da água, superior a 160%”. Já no saneamento, a tarifa fixa aumentou 165% e a variável 523,5%.
Queixas empresariais localizadas, alega a AdRA
A AdRA harmonizou os novos tarifários que estavam em vigor nos serviços municipalizados, “alguns muitos diferentes”, o que explica as variações de preços mesmo entre concelhos vizinhos.
“Os que tinham as mais baixas falam agora em aumentos brutais, mas só podemos viver com as receitas dos clientes”, referiu o presidente da empresa pública.
Por isso “não há queixas” em Aveiro e Albergaria-A-Velha, que tinham já valores próximos do custo real.
A actualização feita na primeira factura emitida pela AdRA não deverá sofrer agravamentos em 2010.
Por pressão das autarquias, foi assumido o compromisso da parceria “manter uma particular atenção aos clientes domésticos”, o que implica “um crescimento muito lento” das tarifas até 2014.
Algo que também é reclamado pelas empresas. Teixeira Valente, presidente da SEMA, insurge-se contra o “brutal aumento” registado no sector empresarial, quando era esperado em altura de crise “equilíbrio e bom senso”. Já seguiu, por isso, já um pedido revisão “para valores aceitáveis”.
Ricardo Abrantes, da AEA, classifica o aumento como “desmesurado e abusivo”.
O preço do metro cúbico da água em Águeda aumentou 204% relativamente ao anterior primeiro escalão, 32% em relação ao segundo e 1,6% em relação ao terceiro.
Foi ainda criada uma taxa fixa não doméstica de 52,37 que não existia.
A AEA regista também “a diminuição brutal do prazo de pagamento”, de um mês para 18 dias, que a AdRA já esclareceu tratar-se de “um erro” das primeiras facturas.
As alterações “são indubitavelmente escandalosas, abusivas, incomportáveis e constituem um claro atentado aos munícipes e empresas”, lê-se num ofício enviado pela AEA ao ERSAR - Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos e ao Governo, entre outras entidades.
340 mil habitantes servidos
A AdRA serve 10 concelhos (Águeda, Albergaria-a-Velha, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Murtosa, Oliveira do Bairro, Sever do Vouga, Vagos e Ovar) com 340 mil habitantes.
Com 236 trabalhadores, a empresa prevê investir até 2017 cerca de 130 milhões de euros na rede em baixa de abastecimento de água e saneamento básico.
Neste momento, estão adjudicadas empreitadas de um milhão de euros.
A AdRa vai ainda distribuir cerca de 40 milhões de euros, durante os próximos três anos, pelos municípios accionistas.