sábado, 29 de maio de 2010

PARA O MUNDO E EM FORÇA

Escrevo normalmente à terça e quarta, dia de entrega. A velocidade das notícias, que acelera quando se aproxima o fim de semana por causa dos semanários, não permite que os textos tenham grande atualidade. Mesmo assim acompanho diariamente a informação... Escrevo normalmente à terça e quarta, dia de entrega. A velocidade das notícias, que acelera quando se aproxima o fim de semana por causa dos semanários, não permite que os textos tenham grande atualidade. Mesmo assim acompanho diariamente a informação, leio jornais, vejo telejornais. Faço-o por uma espécie de sentido do dever, já que o exercício é tudo menos aliciante.
Os portugueses, vá-se lá saber porquê, são dados aos piores defeitos. A inveja, a má-língua, o preconceito, o derrotismo. Gostam muito de falar, sobretudo mal, mas pouco de fazer. Essas características invadiram praticamente todo o espaço mediático. É muito raro ler ou ver algo realmente interessante, aprender qualquer coisa de novo ou simplesmente ter acesso a uma informação útil e estimulante. Jornais e tempos de antena são quase inteiramente preenchidos por más notícias, profetas da desgraça e insídias. A alarvidade também aumentou muito nestes últimos tempos. As poucas coisas positivas que vão aparecendo limitam-se à promoção e venda. Hoje, em Portugal, só existem sorrisos nos anúncios.
Dirão que a culpa é da crise. Não há boas notícias para dar. Mas, na verdade, a crise é uma condição do ser português. Com ela ou sem ela o negativismo predomina. Uma das frases preferidas dos portugueses é dizer que isto está mal, mas ainda vai ficar pior. Por cá adora-se este tipo de disparatadas profecias.
Felizmente nem todos se comportam assim. Os media, como sempre, só transmitem um lado da história. Um número significativo de portugueses vai descolando, literalmente, do país. E digo literalmente porque ao invés da maioria que não consegue pensar para lá das historietas do burgo, começam a ser muitos os que já vivem no mundo. Não é por acaso que as exportações têm vindo a crescer, em vários setores e de forma substancial. Já lá vai o tempo em que a única coisa que se encontrava fora de Portugal era o Mateus Rosé. Agora, para além dos produtos tradicionais como os têxteis ou o calçado, temos construção, tecnologia, comunicação, energia, inovação, cultura. Quem viaja dá-se conta da presença de nomes familiares em vários pontos do globo. São muitos os portugueses que obtêm reconhecimento internacional na política, nos negócios, nas artes, no desporto e não só no futebol. A perceção local de que isto não tem saída nem futuro, não é a mesma que os outros têm sobre nós.
Temos de facto um problema de pequenez. Para além das tão faladas incongruências estruturais, qualquer atividade económica, científica ou cultural que se queira realmente afirmar debate-se com essa questão. Dez milhões de habitantes, não é nada. Ainda para mais, com um nível de pobreza que impede a participação ativa de uma parte considerável da população. Não temos escala.
Mas a pequenez não é um problema em si mesmo. Outros países têm uma dimensão similar ou menor. A pequenez só é um obstáculo quando se vira para si mesma. Quando se pensa como limite. De resto, estamos no mesmo sítio de toda a gente. No planeta Terra.
O mundo já foi uma vez o nosso destino. Volta a sê-lo. Só é preciso ter uma grande vontade. Até porque a situação não é tão negra como a pintam. Portugal é um bom sítio para trabalhar. O clima e a vida quotidiana, ajudam. Temos também alguns talentos naturais, como jeito para falar outras línguas e uma postura de abertura e simpatia. Se a isto juntarmos ambição e criatividade, a pequenez transforma-se facilmente numa boa plataforma de exploração planetária.
O território já não é geográfico, é mental e comunicacional. Estar no mundo não significa estar num determinado lugar, mas agir sobre o que circula, partilhar ideias, realizar coisas que se disseminam por toda a parte. É preciso fazer parte da conversa como diz com frequência uma amiga americana. Estar no mundo é uma atitude, mais do que uma diáspora.
Por isso toda esta choramingueira, os rancores, os ódios, a mediocridade, o primitivismo das ideias e das palavras, que dia após dia enchem papel, olhos e ouvidos, já fartam. Não há paciência para o Portugal derrotado.

Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.