Apanhei-me a ler a entrevista de José Mourinho ontem publicada pelo jornal desportivo AS, saboreando as respostas. No dia anterior, tinha ouvido Mozer numa tertúlia televisiva. O brasileiro convivera com Mourinho nos dias do Benfica, quando o ainda não Special One começava a carreira de treinador sozinho. "Fiquei admirado com o que ele sabia, como os melhores", disse Mozer, que varreu isso como se fosse menor porque quis sublinhar: "O mais importante, mesmo, é que ele era mais inteligente 'que' todos." Ser mais inteligente de todos é uma presunção, ser mais inteligente que todos é um estatuto ganho por múltiplas provas. Afinal já era o Special One... As fotos destes dias de Mourinho revelam um homem que passou por um risco. Ou, como as fotos, aquela cena, que poderia ser fingida, de se abraçar a um jogador a chorar. A verdade é outra, é de um tipo que jogou tudo e está, por estes dias, na ressaca. O presidente do Inter topou-o, nem o tentou reter porque o que tinha para dar era dinheiro e o que o outro queria era saber, outra vez, onde ir mais longe. José Mourinho tem um desafio consigo próprio. Isso acontece com muito boa gente e geralmente é lamentável de se ver. Agora, quando um tipo se lança reptos e os ganha sucessivamente é admirável. Dá-nos um desejo inconfessável: já agora, deixa-me ver quando ele bate contra a parede
Ferreira Fernandes, in http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1580391&seccao=Ferreira