O primeiro romance escrito por John Fante foi também o o último a ser publicado.
Falecido em 1983, bem distante da glória que os seus livros justificariam, Fante já não pôde ver nas livrarias Estrada para Los Angeles”, o livro com o qual deu a conhecer ao mundo Arturo Bandini, personagem que o acompanhou durante grande parte da obra (como em Perguntem ao pó e A primavera há-de chegar, Bandini, ambos publicados pela Ahab).
Apenas uma ironia mais numa vida acidentada como poucas, que serviria de base para os próprios livros que o autor escreveu, incensados por nomes como Charles Bukowski.
Estrada para Los Angeles é disso exemplo. O (anti)herói da história, Arturo Bandini, é, em larga medida, o próprio escritor. Descendente de emigrantes italianos, cresce numa família disfuncional, privado da influência paterna, ansiando apenas pelo momento em que iria deixar a miséria que o cerca para trás, para construir um futuro radioso.
Apesar de ter sido recusado por todas as editoras que John Fante contactou, Estrada para Los Angeles não é o típico romance de um jovem de 24 anos. Nota-se, é certo, uma influência talvez excessiva de alguns autores e livros – sobretudo À espera no centeio”, de J. D. Salinger, e, sobretudo, o magistral Fome, de Knut Hamsun –, mas o enorme talento do autor de A confraria do vinho já era por demais evidente no livro de estreia.
Espraia-se em passagens abundantes ao longo da narrativa, que descrevem com nitidez a rebeldia e insatisfação do imaturo Bandini, jovem com ânsia de agarrar o futuro com as próprias mãos.
(Sérgio Almeida)
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