Três décadas depois de deixarmos Coimbra,
estamos aqui de novo,
num reencontro que a muitos só agora voltou a ser
possível.
A alguns outros,
(felizmente poucos),
encarregou-se a lei da vida de os impedir de aqui
estarem entre nós.
A morte,
essa doce irmã do sono que,
como a definiu Agostinho da Silva,
deve,
como o som e a cor,
ser falsa, exterior e passageira,
é aquela realidade dura que, como Zeca Afonso a cantou,
sai à rua num dia
assim,
num lugar sem nome,
p’ra qualquer fim…
É a sua crueza que nos faz perceber
que para tudo há uma
ocasião certa,
e que para cada propósito
há um tempo certo
- até para a morte!
Sim!
Qualquer laico sabe
que há um tempo de destruir e um
tempo de construir,
um tempo de chorar, e um tempo
de rir,
um tempo de procurar, e um tempo
de desistir;
Também os ignotos sabem
que há um tempo de rasgar e um tempo
de coser,
um tempo de calar e um tempo de
falar;
E até os insensíveis sabem,
que para além de um tempo de ódio,
de luta e de morte,
há também um tempo de amor, de cura
e de vida em paz;
Todos sabemos, enfim,
que há um tempo de nascer e um tempo
de morrer,
e foi com a ciência que aprendemos
que afinal, não viemos do pó;
E quando os nossos espíritos
navegarem
por límpidos mares de luz nunca dantes navegados,
estaremos então,
a caminho de nos transformarmos
em pó.
E nesse momento de festa e de
comunhão,
elevaremos bem alto os cálices,
evocaremos os gregos Baco e
Dionísio,
esses olímpicos deuses do
vinho, das festas e da diversão,
e brindaremos,
felizes, à amizade dos Colegas
que partiram, é certo,
mas que espiritualmente
permanecem entre nós,
porque a morte levou-os desta
vida
mas não apagou a sua memória…
(Jorge Mendonça)