terça-feira, 4 de setembro de 2012

QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA


Os emigrantes, na sua maioria, aproveitam o mês de agosto para matar saudades da terra natal

Óbvio: fizeram as malas e à entrada de setembro já partiram para mais um ano de labuta nos países de acolhimento. São poucas as matrículas francesas, luxemburguesas, alemãs, belgas ou suíças ainda a colorir por estes dias as gândaras das nossas aldeias.

A partida dos emigrantes coincide com a redução de festarolas - e nos mais recônditos lugarejos arrefece também o potenciar das virtudes das tradições do ser português. É sobretudo em agosto, entre dois copos de vinho e um bom naco de porco assado, que as noites são agitadas por cantares ao desafio, com ou sem concertina. Sim, ainda há algumas festas neste começo de setembro, mas em rarefação....

A título excecional, o primeiro domingo de setembro deu direito a espetáculo extra: Passos Coelho e António José Seguro protagonizaram uma desgarrada. Desafinada.

Embora PSD e PS estejam umbilicalmente ligados ao memorando de entendimento a que o país se obrigou para driblar a bancarrota há pouco mais de um ano, o posicionamento (vocal) do líder do Governo e da Oposição vincou divergências circunstanciais.

Ambos estão de acordo num ponto: o do sofrimento por que passam os portugueses na sequência de políticas restritivas, a maioria impostas por quem nos financia. As suas vozes desafinam em tudo o resto. A substância para o agudizar da anemia económica do país, refletida no aumento exponencial da taxa de desemprego e no alargamento das necessidades de socorro social, é, apenas, um dos itens diferenciadores. Para Passos Coelho, embora todas as dificuldades reconhecidas, há um copo meio cheio; para António José Seguro, um copo meio vazio.

O cantar ao desafio de Passos Coelho estava ontem, necessariamente, mais condicionado. Afinal anda por cá a troika para uma quinta avaliação ao seu próprio receituário e a estratégia do primeiro-ministro é a de não se desviar um milímetro do objetivo: as emendas aos buracos no défice ou a necessidade de dilatação dos prazos devem ser reconhecidas e propostas pelos projetistas do resgate. Daí ser-lhe difícil replicar aos sarilhos....
Simples, para povo ouvir: António José Seguro está menos manietado e é-lhe mais fácil diversificar a letra. Por um lado, acreditará já não estar o povo lembrado de qual o partido que se viu obrigado a chamar a troika em anterior encarnação; por outro, não estando no Poder é-lhe fácil recusar mais austeridade e exercitar a ideia segundo a qual o Orçamento de Estado de 2013 não precisa do PS para ser viabilizado pela coligação de governo. Pois......

Assim como assim, talvez encafuados no Ministério das Finanças, os senhores da troika terão encolhido os ombros à desgarrada, colocando uns tampões nos ouvidos. Têm a faca e o queijo na mão para traçar o nosso futuro. Aos comissários da execução do plano, os atuais ou os pretendentes, resta-lhes o canto. Quem canta seus males espanta, diz o povo...

Retirada daqui