Os emigrantes, na sua maioria, aproveitam o mês de agosto para
matar saudades da terra natal.
A partida dos emigrantes coincide com a redução de festarolas - e nos mais
recônditos lugarejos arrefece também o potenciar das virtudes das tradições do
ser português. É sobretudo em agosto, entre dois copos de vinho e um bom naco de
porco assado, que as noites são agitadas por cantares ao desafio, com ou sem
concertina. Sim, ainda há algumas festas neste começo de setembro, mas em
rarefação....
A título excecional, o primeiro domingo de setembro deu direito a espetáculo
extra: Passos Coelho e António José Seguro protagonizaram uma desgarrada.
Desafinada.
Embora PSD e PS estejam umbilicalmente ligados ao memorando de entendimento a
que o país se obrigou para driblar a bancarrota há pouco mais de um ano, o
posicionamento (vocal) do líder do Governo e da Oposição vincou divergências
circunstanciais.
Ambos estão de acordo num ponto: o do sofrimento por que passam os
portugueses na sequência de políticas restritivas, a maioria impostas por quem
nos financia. As suas vozes desafinam em tudo o resto. A substância para o
agudizar da anemia económica do país, refletida no aumento exponencial da taxa
de desemprego e no alargamento das necessidades de socorro social, é, apenas, um
dos itens diferenciadores. Para Passos Coelho, embora todas as dificuldades
reconhecidas, há um copo meio cheio; para António José Seguro, um copo meio
vazio.
O cantar ao desafio de Passos Coelho estava ontem, necessariamente, mais
condicionado. Afinal anda por cá a troika para uma quinta avaliação ao seu
próprio receituário e a estratégia do primeiro-ministro é a de não se desviar um
milímetro do objetivo: as emendas aos buracos no défice ou a necessidade de
dilatação dos prazos devem ser reconhecidas e propostas pelos projetistas do
resgate. Daí ser-lhe difícil replicar aos sarilhos....
Simples, para povo ouvir: António José Seguro está menos manietado e é-lhe
mais fácil diversificar a letra. Por um lado, acreditará já não estar o povo
lembrado de qual o partido que se viu obrigado a chamar a troika em anterior
encarnação; por outro, não estando no Poder é-lhe fácil recusar mais austeridade
e exercitar a ideia segundo a qual o Orçamento de Estado de 2013 não precisa do
PS para ser viabilizado pela coligação de governo. Pois......
Assim como assim, talvez encafuados no Ministério das Finanças, os senhores
da troika terão encolhido os ombros à desgarrada, colocando uns tampões nos
ouvidos. Têm a faca e o queijo na mão para traçar o nosso futuro. Aos
comissários da execução do plano, os atuais ou os pretendentes, resta-lhes o canto. Quem canta seus males espanta, diz o povo...
Retirada daqui