Há uma expressão na língua inglesa de que gosto
muito. Um pouco ordinária, mas não muito. É "Bullshit", que em português se pode
traduzir por treta, embora sem a mesma qualidade gráfica.
Os governos
são todos, sem exceção, grandes produtores de "Bullshit".Umas vezes de propósito, para esconder coisas aos cidadãos, outras porque não
sabem mesmo o que dizer. A população, maioritariamente crédula, pensa, contra
toda a evidência, que os governos reúnem os melhores e sabem o que estão a
fazer.
Na verdade, os primeiros-ministros convidam pessoas para ministro pelas
razões mais diversas, fidelidades partidárias, recompensa política, amiguismo,
mero acaso. Não existe, na política, um sistema de recrutamento racional ou uma
avaliação rigorosa das capacidades. Predomina a tentativa e erro. Daí que seja
tão frequente o erro de "casting". O atual governo tem vários, de que se
destacam Miguel Relvas e
Álvaro Santos Pereira, mas, vendo bem as coisas, o próprio chefe também não foi
grande escolha.
Ao ouvir o Dr. António Borges na
televisão, naquela sua dissertação sobre a chatice e despesa que é o serviço
público, por oposto ao excelso talento dos privados, pensei que se aplicássemos
esta ideologia ao exercício do governo, então o melhor seria privatizá-lo, ou,
arranjar uma concessão. Entregavam-se os impostos dos portugueses a um grupo
privado com a contrapartida contratual de ele garantir que o país dava lucro.
Era um excelente negócio para todos.
Não é, aliás, uma ideia assim tão
estapafúrdia. Já está a acontecer, só que a retalho. Contudo, tal como na
questão da RTP, o óbice reside na interpretação do que é serviço público.
Enquanto as empresas existem para dar lucro, o serviço público é por natureza
uma contrapartida dos impostos e não tem por objetivo gerar receita. Quando
assim acontece, há um claro duplo pagamento pelo mesmo serviço.
Agrada-me a redução do Estado a funções básicas que garantam segurança,
oportunidades iguais, liberdade de escolha e a iniciativa dos cidadãos. O Estado
cresceu demais, imiscui-se em tudo e cobra impostos claramente exagerados para
alimentar o polvo. Apesar da ideologia, dita neoliberal, nunca um governo como o
atual foi tão longe no saque aos rendimentos. E promete continuar. Ao mesmo
tempo que manda os Borges debitar elogios à iniciativa privada, na realidade
limita-a fortemente ao retirar da economia os meios necessários para essa
iniciativa. Por isso, gostaria que alguém fosse capaz de fazer uma coisa
simples. Definir o serviço público essencial, em todas as áreas, e proceder em
conformidade. E, já agora, contabilizar, o que qualquer folha de Excel consegue
fazer. É assim tão difícil?
Temos, por isso, cada vez mais "Bullshit" e
menos racionalidade. Ninguém é capaz de explicar a situação de forma clara,
fazer uma previsão fundamentada, estabelecer um objetivo concreto. Um dia diz-se
que a crise está no fim e a recuperação já espreita em 2013, no outro que nem
pensar e são necessários mais sacrifícios.
A nível governamental, as
coisas também não podiam estar piores. O ministro Relvas deixou de poder falar e
evita aparecer em público. Arrisca-se a levar com apupos ou cartazes que dizem
"vai estudar Relvas", que emergem nos mais incríveis cantos do globo graças à
natureza viral das redes sociais. Daí os papagaios que falam por ele. O ministro
da Economia vai insistindo que está tudo a correr muito bem, com aquele ar de
pastel de nata, não conseguindo, contudo, explicar como é que está tudo bem com
o número crescente de desempregados e falências em catadupa. A ministra da
Agricultura deve estar de férias. O ministro da Educação, infelizmente, não está
de férias e entretém-se a fazer regredir o ensino ao tempo da tabuada e das
reguadas. O secretário de estado da Cultura afirma que está arrependido por ter
aceitado o cargo. Nesta ronda de vulgaridades, o ministro da Saúde não se
arrepende de nada e anda mesmo a tratar da saúde aos portugueses.
Enfim,
privatize-se o governo que a "Bullshit" não seria muito diferente.
Leonel Moura, aqui