A consola de jogos da Nintendo é a minha mais recente amiga.
Travámos
conhecimento no Algarve, durante as férias. A minha 3DS (a do meu filho mais
novo, na verdade) é azul, cor do clube do meu coração, logo bonita, o que sempre
ajuda a quebrar as dificuldades iniciais.
O jogo é simples, mas requer astúcia, treino, rapidez e lucidez na decisão
para se ter sucesso. Seis bonecos seguem nos seus karts, uns atrás dos outros,
por percursos vários. Durante o trajeto surgem cubos que, quando tocados pelos
carros, libertam uma "arma" que os ajuda a livrarem-se dos incómodos
concorrentes (cascas de banana, carapaças voadoras, etc...). Claro: às vezes,
somos nós os visados pelas "armas" dos outros.
A coisa é relativamente fácil, quando jogada nas versões 50 e 100 centímetros
cúbicos (cc). Só começamos a perceber como aquelas pequenas criaturas podem ser
irritantes quando nos atrevemos a correr na versão 150 cc. Aí são necessários
nervos de aço para não atirar a consola contra a parede.
Enquanto andou a jogar as versões 50 cc e 100 cc, o Governo pôde jurar, sem
ruborizar, que, daqui a quatro meses, quando entrar o novo ano, as agruras dos
portugueses começariam a desaparecer. Mal passou para o modo 150 cc, aquele em
que a perícia do condutor é verdadeiramente posta à prova, o Governo
estatelou-se. Porquê? Porque lhe falta treino, lucidez e rapidez na decisão.
Cada curva mais apertada do percurso anuncia um precipício; cada "arma"
disparada pela (cruel) realidade é recebida com o pânico típico dos inseguros;
aos obstáculos que vão surgindo o Executivo fecha os olhos, na esperança de que
desapareçam. O Governo anda desgovernado. Eu não emprestava a minha Nintendo a
Passos Coelho, sob pena de o primeiro-ministro estragar todos os recordes que
consegui nas férias...
Hoje, chega a Portugal a troika, para a quinta avaliação do andamento das
medidas que supostamente nos tirariam do inferno. É já claro que o objetivo
maior do memorando - controlo do défice e da dívida pública - não será alcançado
nos timings previstos, pelo que resta saber o que aí vem: mais austeridade, mais
tempo para controlar o monstro ou ambos em doses a definir pela troika?
O tempo, como no Mario Kart, esgota-se. E o tempo joga contra Passos: os
sinais de definhamento e desnorte são claros em vários ministérios, o que
significa que à crise financeira e económica pode estar prestes a juntar-se uma
perigosa e insustentável crise política. O problema é que, ao contrário do que
podemos fazer com a Nintendo, não dá para desligar e começar de novo com a nossa
vidinha coletiva...
Retirada daqui