segunda-feira, 24 de setembro de 2012

ELES FALAM, FALAM, FALAM...!


A crise social e política deveria, pela sua dimensão, ser um enorme convite ao rigor recatado dos atores políticos - sem exceção. Por três simples razões: a de que não estamos em tempos de promessas vãs, nem de folclore demagógico, nem dos "sound bytes" para teleconsumo.

Infelizmente, os 87 por cento de portugueses desiludidos com a democracia, ou os 74 por cento que consideram este Governo pior ou igual ao de Sócrates, ou ainda os 61 por cento que não acreditam nas propostas da Oposição (segundo os resultados da sondagem da Universidade Católica publicados na nossa edição da passada quinta-feira) continuam a ter reiteradas razões de desilusão. E já não é exclusivamente pelo que é feito ou deixa de o ser, pela opção A contra a B. É pelos próprios raciocínios e palavras empregues e até pelos momentos escolhidos para os exprimir. E que, em vez de esclarecerem, acentuam a ideia de que a democracia está ameaçada até nos seus formalismos.

Presumo que o presidente da República tenha estado calado mas procurado também exercer uma magistratura de influência no sentido de esvaziar a crise política instalada há 15 dias, quando Paulo Portas resolveu tornar públicas as objeções do CDS. Pois ontem, a escassas horas da reunião do Conselho de Estado, Cavaco Silva resolveu divulgar a sua posição sobre a crise.

Se já achara mau que um conselheiro de Estado com o estatuto de pai da democracia, como é Mário Soares, não tivesse esperado para dizer, em primeira mão, ao presidente e aos seus pares, que em sua opinião Passos Coelho deveria demitir-se, pior achei que Cavaco Silva tivesse soçobrado à tentação de falar publicamente e também ele acabasse por desvalorizar o Conselho de Estado. E para dizer o quê? O contrário de Soares: que, para ele, a estabilidade estava acima de tudo.

Talvez pressionados pelo clima de contestação, os atores políticos chegam a perder a razão que lhes possa assistir na interpretação do que seja melhor ou pior para o povo, ou até na bondade mais oculta das suas próprias propostas.

Também ontem, ao socorrer-se de um cenário sobre impostos noticiado pelo "Correio da Manhã", Seguro colocou-se à mercê da chacota do primeiro-ministro, que lhe respondeu o óbvio: que não é o diretor desse jornal.

E estava o país mergulhado no olho do furacão da TSU, quando o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro tornou pública a sua incompreensão quanto à oposição dos empresários à descida da TSU. Moedas explicou, sem pestanejar, que os mais pequenos e ágeis passariam a poder disputar mercado aos tubarões instalados. Esquecendo que entre grandes, médios e pequenos empresários, 90 por cento do tecido empresarial vive, e sobrevive, do que a classe média consegue consumir - ou não.

Retirada daqui