Os gauleses resistentes aos
romanos na brilhante ficção do herói Asterix que Goscinny e Uderzo criaram,
apenas tinham medo que o céu lhes caísse em cima.
Os seus descendentes reais do
século XXI, celtiberos cometidos a um pequeno canto da ibéria, já só receiam
que os impostos lhes caiam sobre a cabeça. Ao contrário do que conta a história
da banda desenhada, a organização romana acabou por vencer, por mais que uns
quantos irredutíveis combatessem sem fim.
Vivemos afogados em dívidas que nos
foram impostas por ocupantes ávidos de venderem os seus produtos aos novos-ricos
que emergiam na comunidade europeia. A história do pequeno retângulo mais
ocidental da europa tem tido longos de miséria pontilhados por curtos períodos
de crescimento que sempre acabaram em regimes mais autoritários. Talvez daí a
nossa capacidade de termos inventado os brandos costumes para suportar tamanhas
privações.
Hoje já não nos vencem pelas
armas. Derrotam-nos pela vontade intrínseca de termos mais do que o pudemos
sustentar. Venderam-nos a ideia de que poderíamos ser ricos sem trabalhar e
passaram aos políticos o conceito que que era possível fazer política sem
ideologia. Dois pecados mortais que para além de nos dizimar vão acabar por
contaminar todo o velho continente.
A tecnocracia das contas acabou por vencer
a seriedade do trabalho e já está a aplicar as mesmas receitas que um célebre
governante utilizou depois duma bebedeira política que fez desmoronar a 1º
República. Mas as diferenças são grandes. Primeiro na novíssima moda da
modelação das palavras e principalmente depois na incapacidade dos governantes
de hoje serem incapazes de se autoflagelarem juntamente com o seu povo.
Ficam
imunes aos sacrifícios, incapazes de reduzir na sua obscena gordura e comentam
com gozo a fábula da cigarra e da formiga.
Apetece-me dizer como Zeca Afonso
cantando para as formigas: mudem de rumo, mudem de rumo, já lá vem outro
carreiro.
António Granjeia, no 'Jornal da Bairrada' de 27 de Setembro de 2012