Há uns anos, um jovem licenciado português, a estagiar na
Alemanha numa conhecida empresa daquele país, viu-se, sem querer, metido numa
confusão.
Tentando aproveitar ao máximo os nove meses que durava o estágio,
ficava até mais tarde a adiantar o que lhe era pedido e a tentar descobrir como
as suas competências poderiam ser úteis à empresa.
Ao sair, o que sabia de alemão deu-lhe para perceber que havia um problema
com a Polícia ou coisa assim. Continuava sem entender o que tinha ele a ver com
o assunto. No dia seguinte, mal se apresentou ao trabalho foi chamado ao
gabinete do seu superior hierárquico que lhe determinou que, se queria manter o
estágio, passaria a proceder como os seus colegas e saía de acordo com o
horário.
Se fosse preciso fazerem horas extraordinárias alguém lho diria. Percebeu,
então, que uma qualquer fiscalização teria visto luz no seu espaço de trabalho e
indagara a razão junto do segurança: se teria havido descuido dele na ronda,
deixando a luz acesa, ou se havia alguém a trabalhar e, nesse caso, em que
contexto.
Fosse pela eventual multa, fosse, pura e simplesmente, pela violação da lei,
a verdade é que a pessoa a quem reportava não tinha achado graça nenhuma ao seu
excesso de zelo.
Um ou dois anos mais tarde, uma outra participante do programa Inov Contacto
da AICEP estagiava numa multinacional de bioengenharia em S. Francisco. A sua
atitude era a mesma: aproveitar ao máximo para aprender, cumprir
escrupulosamente as tarefas que lhe estavam destinadas e, num mundo competitivo,
tentar salientar-se na esperança de que tal pudesse gerar uma oferta de
emprego.
Certo dia, ao chegar ao trabalho, tinha à sua espera a pessoa a quem
reportava. Encaminhou-a para uma sala privada onde lhe anunciou que, a partir
daquele dia, o seu correio electrónico passaria a estar vigiado e o seu
comportamento seguido de perto. Se não estivesse disponível para aceitar essas
regras, o estágio cessaria imediatamente. Inquirindo a razão para tão drástica
decisão, foi-lhe respondido que era suspeita de espionagem industrial.
Espantada, jurou que não. A resposta da americana foi muito simples: ninguém
trabalharia tanto se não tivesse um incentivo adicional.
Passaram, talvez, uns 10 anos. A Alemanha e os Estados Unidos continuam a
estar entre os países mais ricos do Mundo, não obstante o recente declínio
relativo da economia americana. As suas empresas continuam a ser,
internacionalmente, das mais competitivas, posição assente na capacidade
inovadora e na elevada produtividade. Ainda que na última década tenha havido
alterações institucionais e políticas que aproximaram o contexto alemão do
americano, as diferenças continuam a ser substanciais. Ou seja, envolventes
diferentes conseguem produzir empresas igualmente eficientes. Poder-se-á
argumentar que, em ambos os casos, há uma orientação para esse objectivo,
caminhos distintos mas um sistema igualmente finalizado. Uma parte da explicação
estará, certamente, aí. Uma parte. E não a maior. Cavando mais fundo, vamos
encontrar outros factores, desde o investimento e a investigação e
de-senvolvimento até ao design, desde a qualificação da força de trabalho até à
organização e ao sistema de incentivos. Factores que reflectem opções, escolhas
para tentar fazer acontecer algo de diferenciador, que rompa com a inércia, que
se afaste do que de outro modo ocorreria. Numa palavra, gestão.
Enquanto isso, por cá, o responsável por um dos maiores grupos nacionais
proclama, perante jovens finalistas universitários, que naquela casa não há
lugar para mandriões. Ninguém ali trabalha só 8 horas. Uma frase
descontextualizada. Ainda assim perigosa.
Oxalá o nosso problema fosse só de
quantidade e não, sobretudo, de qualidade... A começar na gestão!
Retirada daqui