terça-feira, 15 de maio de 2012

DOCE MAIO

Gostei do dia do trabalhador, sobretudo dos que transgrediram as regras.

Arregaçando mangas, aproveitaram o dia para abrir o pequeno comércio. O tempo não está muito para folias, cravos vermelhos, slogans. Está mais para mudar de vida e de hábitos.

Gostei porque, para além das festas das ruas, também houve uma verdadeira festa nas compras no Pingo Doce. Com gente a trabalhar nas caixas e na reposição de stocks.

 
Não de lágrimas nos olhos, dizendo mal do patrão, mas com o mesmo sorriso de sempre, coisa que logo ofendeu Sindicatos e Esquerda.

E aqui, como em muitas coisas, não entendo nem uns nem outros. Estão sempre a bater no governo com o desemprego, os baixos salários, a miséria de uns e a pobreza de outros. Mas eis que aquele Supermercado resolveu baixar os preços em 50% e logo de todos os quadrantes se ergue um coro protestos. Curioso é que nunca ninguém se preocupou com o agricultor a trabalhar todo o ano.

Sem feriados.

E logo saltaram os sociólogos de serviço, que ainda não aprenderam que os portugueses adoram bónus e borlas. Esquece-se a Esquerda e a passarada que este foi o melhor bodo para gente de baixos rendimentos, que encheu a despensa por metade do preço, uma verdadeira festa e esqueceu por uns momentos a voraz crise. Em tempo de crise, os portugueses preferem o pão às rosas.

Esta campanha teve outro mérito: mostrou como o suor do produtor é chulado pelas grandes superfícies, pelos mercados. Para o produtor fica o cêntimo, para os hipers os milhões e para o consumidor uma factura incomportável. Com esta situação é que já se deveria ter preocupado Assunção Cristas.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 10 de Maio de 2011