terça-feira, 15 de maio de 2012

BOICOTAR OS MAIS FRACOS

Todos sabemos que a hipocrisia e os interesses comandam e determinam a política internacional. Uns chamam a esta maneira de fazer politica a RealPolitik.

Estas ideias significam lidar com outras nações poderosas de uma maneira prática, em detrimento de uma base de política doutrinária e tratando nações menos poderosas de forma muitas vezes humilhantes. Foi o que aconteceu com as ações diplomáticas no tempo de Nixon para lidar com a República Popular da China.


A RealPolitik, que teve origem na Alemanha no século XIX, ultrapassa frequentemente as regras da urbanidade, dos direitos humanos e da decência para justificar objetivos estratégicos mais latos e muitas vezes imperscrutáveis. Embora como disse atrás esta forma de fazer politica tenha sido mediatizada no tempo de Henry Kissinger é a Europa que continua mestre de prosseguir estas políticas. Infelizmente maior parte das vezes, justificada pela manutenção da paz, esta tem servido para castigar os mais pequenos e conseguir pequenas vitórias para o marketing politico local.

Um último exemplo é a que se refere à Ucrânia. Condenada a sete anos de prisão por ter ultrapassado o limite de suas competências ao assinar os contratos de gás com a Rússia, a ex-primeira-ministra da Ucrânia, Júlia Timochenko, entrou em greve de fome. Para evitar problemas internacionais as autoridades ucranianas têm brutalmente usado a polícia prisional para fisicamente pressionar a detida a abandonar este protesto incómodo para o poder ucraniano.
Como resposta, os líderes europeus pensam em boicotar o Europeu 2012 que se vai realizar nesse país e na Polónia não indo à sessão de abertura na Ucrânia. Desde os russos liderados pela oligarquia pseudo democrática de Putin (pressionaram Júlia ao limite do aceitável) até Angela Merkel, passando Durão Barroso, entendem que o boicote é uma forma legítima de pressionar os ucranianos.
A pergunta é: onde andavam estes mesmos líderes quando se realizaram os Jogos Olímpicos na China, um país onde situações destas que estão a afetar a corajosa Júlia Timochenko, são brincadeiras de crianças?
Sempre é mais fácil boicotar os mais fracos.

António Granjeia, no 'Jornal da Bairrada' de 10 de Maio de 2012