terça-feira, 10 de abril de 2012

2015, 2016, 2017, (...)

Funcionários públicos, trabalhadores de empresas do Estado e pensionistas bem podem colocar um parêntesis na sua vida, a verdade impõem que se lhes diga que ninguém lhes pode garantir a data em que vão voltar a receber o equivalente a 14 meses de vencimento.
 
 
Isto é assim não porque as circunstâncias mudaram desde que lhes confiscaram os subsídios, mas porque o Estado só vai poder pagar quando tiver dinheiro para o fazer.

O Governo sabe isto agora e já o sabia quando decidiu o confisco, deixando de fora os trabalhadores do sector privado. Em nome da verdade que tanto apregoa, o ministro das Finanças podia evitar os lapsos de linguagem e responder seriamente: "O confisco durará o tempo que for preciso."
 
 
A intervenção estrangeira a que Portugal se sujeitou serve agora de desculpa para tudo. Serve para desdizer o que foi dito e serve também para fazer política às escondidas. As reformas antecipadas estão proibidas enquanto durar a intervenção, decidiu o Governo. E decidiu no segredo dos gabinetes para evitar uma corrida a essas reformas, mas mais uma vez não estão a dizer tudo. A verdade impunha que se dissesse: "A proibição durará o tempo que for preciso."
 
 
Sendo certo que este tipo de decisões é crucial para atingirmos as metas a que nos obrigámos quando assinamos o memorando da troika, é igualmente certo que em nome da justiça deveríamos estar a discutir a repartição dos sacrifícios. Se o confisco vai prolongar-se para os pensionistas e funcionários públicos ganham força os argumentos dos que defendem que neste esforço deveriam participar também os trabalhadores do sector privado.
 
 
É claro que quando andamos a discutir o diz que disse, os equívocos e os lapsos não sobra tempo para discutir a justa repartição dos sacrifícios. O Governo ganha quando mantém vivo o debate sobre as opções a seguir e perde quando decide às escondidas porque desconfia do povo que o elegeu.
 
 
No caso da proibição das reformas antecipadas, com as excepções que são conhecidas, até faz sentido esta promoção de envelhecimento activo em Ano Europeu dedicado ao assunto. Só que a política do facto consumado é contraria aos interesses da democracia. Um governo que desconfia do seu povo não pode estranhar que o povo perca a confiança no seu governo.
 
 
O Executivo ainda não fez um ano de funções e tem mais três pela frente. Convém que não se mostre desconfiado de tudo e de todos e cansado de si próprio. E convém igualmente que deixe de fazer previsões de curto prazo, porque o tempo encarrega-se de provar que estão erradas. Não queremos adivinhos a governar a nossa vida. Vamos voltar aos mercados e viver todos melhor quando tiver de ser. Ponto final.

Paulo Baldaia, aqui