quinta-feira, 10 de novembro de 2011

IMORALIDADES

Há coisas que ficam bem ao governo e de que, no geral, o povo gosta.

Às vezes, pequenos gestos que significam muito e servem para atenuar tensões políticas e sociais. É o caso das conversas entre P. Coelho e J. Seguro, à volta do Orçamento do Estado (OE), Saúde-se. O governo e o maior partido da oposição (PS) têm que se entender, são forçados a isso. Em nome da democracia e do país.

O povo não entende que fosse o contrário nestes tempos terríveis. Estão amarrados ao mesmo documento da Troika, que, para nosso mal ou nosso bem, quer obrigar a fazer o que há muito deveria estar feito pelos políticos: pôr as contas em ordem e gastar com conta, peso e medida, os parcos recursos. O primeiro resultado é a abstenção na votação do OE.

A única porta de saída com honra para o partido, embora, assim procedendo, signifique o reconhecimento do buraco colossal, deixado por Sócrates, que advogava o voto contra, bem como alguns fiéis seguidores. Em nome do país, foi exactamente a razão que levou, há meses, o PSD a ter atitude semelhante. Esta posição pôs a esquerda radical furibunda.

O PCP diz que foi “uma rendição incondicional”; o Bloco que exige a criação de um imposto sobre o património de luxo, blá, blá, blá… Não se sabe se o PS consegue ou não moderar o corte nos subsídios (seria óptimo) ou festejar algumas cedências, mas, considere-se que, para já, Seguro teve uma atitude responsável

Ao contrário, choca-nos a todos o governo ter recuado e cedido às pressões de João Jardim, incontinente nos gastos e contas ocultas, para manter isenções fiscais aos sócios das empresas sedeadas na sua Zona Franca (as off-shores). Mas não devia, quando tantos sacrifícios nos exigem. Mais uma escandalosa excepção.

O governo “perde” cem milhões de euros, que irá buscar aos nossos bolsos. Em vez de penalizado, teve um prémio o JJ. O costume.

stes “amiguismos” ou arranjos não deveriam jamais acontecer.

Cheiram a mais uma imoralidade.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 10 de Novembro de 2011