domingo, 19 de junho de 2011

REGRESSO À TERRA

Cavaco aproveitou o Dia de Portugal para apontar alguns caminhos para sair da crise: trabalhar mais e melhor, slogan que todos sabem, mas na hora fazem um chega para lá, o regresso à agricultura, sector esquecido e menorizado por todos; a revalorização do interior do país.

Apelo a uma batalha que deveria ter sido ganha na altura da adesão da CEE, que tudo nos impôs, em favor dos grandes. E Aníbal também tem culpas no cartório.

Havia quotas para tudo: leite, azeite, vinho, pescas, o que para nós significou redução do gado leiteiro, arranque de oliveiras e vinhas, abate da frota pesqueira.

Era o tempo do planta-arranca, o tempo de receber subsídios para tudo e para nada, para não produzir. Nababos, ficámos dependentes dos subsídios, julgando que a mina nunca mais acabava, mas acabou. Sobrou-nos a mania de ricos. O resultado está à vista.

Escândalo é um país pobre não produzir para comer e ter 220 mil lavradores pagos para não produzir e destes ter 2 mil a receberem 250 milhões euros/ano, mais do que todos os outros juntos. Claro, cria-se o vício do ócio. Outro escândalo é o governo anterior não aplicar os fundos comunitários destinados ao sector. Afinal nunca houve governo que levasse o sector a sério.

Não está só na hora de mudar de atitude na agricultura, desenvolvendo uma estratégia clara para o sector, também na justiça e na política, no desenvolvimento do interior. Discursos, há muitos, diagnósticos também, falta é gente política capaz de levar as coisas à prática e técnicos agrários em campo, depois de desenhada uma estratégia nacional.

É preciso mudar de atitude, de vida, sob pena de falhanço, que não é impossível, mas é possível evitá-lo, se cada um, na sua tarefa, desde o político ao agricultor, der o seu melhor e em uníssono, devolvendo o país ao trabalho e à honra. Sobretudo, é preciso um governo mobilizador.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 16 de Junho de 2011.