domingo, 19 de junho de 2011

CARTA CÂNDIDA AOS APÓSTOLOS

Senhor Pedro e Senhor Paulo, nada disto tem a ver com o outro Senhor, falo-vos sobre as coisas de César, sobre a terra e o mar e as pessoas que habitam esta cave solarenga da Europa, cada vez mais ilha e menos península.

Não quero um subsídio, cunhas ou sequer fazer reclamações. Tampouco peço milagres. Mantenhamos os pés no chão e falemos da terra, do mar e das pessoas que perderam a ilusão da harmonia com o resto do continente. A verdade é que nunca fomos os bons alunos que nos disseram que éramos.

Fôssemos estudantes de quadro de honra e não estaria agora a escrever-vos esta carta, sentindo-me tão expectante como aqueles que todos os dias vivem nesta terra, neste mar, nesta coisa tão intricada e desaproveitada e maltratada que é Portugal. Estamos a aprender a lição e queremos, repito, com os pés no solo, ser esta terra, este mar e estas pessoas - mas em versão 2.0, mais apurada, mais verdadeira. Queremos fazer coisas, criar coisas, apurar coisas.

Outra figura de nome bíblico e carreira futebolística, de nome José, disse em tempos: "Não somos os melhores mas também não somos os piores." Eu sei, parece demasiado simplório para tempos tão aflitivos. Mas é exactamente isso que vos peço: que tudo seja honesto, simples, transparente, digno, feito como tem de ser feito - com a fluidez da água, a certeza do gume da faca e o peito dos corajosos. Sejam os melhores homens que conseguem ser, os mais justos, os que mais tentam.

Sejam aquilo que não fomos até agora. Não façam como Judas. Sejam os melhores portugueses de sempre. Nós seguiremos o exemplo.

Hugo Gonçalves, aqui