segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

PELO MENOS QUARENTA BEBÉS FORAM ABANDONADOS NAS MATERNIDADES EM 2010

Este ano, pelo menos, 40 recém-nascidos foram rejeitados pelas mães nas maternidades de todo o país.

Metade foram pura e simplesmente abandonados, o que é crime. Os outros foram entregues para adopção, por vontade das mães ou por falta de condições.

O número, quando muito, peca por defeito. Em Portugal não há estatísticas sobre bebés abandonados ou deixados para adopção nas maternidades. O JN contactou 18 hospitais/ centros hospitalares com serviços materno-infantis e recebeu respostas de 15.

A maternidade do Hospital Amadora-Sintra, inserido num contexto económico-social complexo, carrega os números mais dramáticos: 14 abandonos e três consentimentos para adopção de Janeiro a meados de Dezembro de 2010. Apesar de tudo, são muito menos do que no ano anterior, em que foram registados 42 abandonos, referiu a assessoria de Imprensa do Amadora-Sintra.

Ainda a Sul, mas com registos bem menos expressivos, está a Maternidade Alfredo da Costa, com dois casos de abandono e quatro adopções. Fátima Xarepe, responsável pelo serviço social daquela maternidade de Lisboa, recorda as duas mães, com dependências de álcool e drogas, que saíram porta fora deixando moradas e identidades falsas e os bebés no berço.

Nas situações de abandono, as mães exigem alta médica e desaparecem, sem deixar rasto. Foi o que aconteceu também no Hospital de S. João, no Porto. "A mãe teve alta, disse que voltava e nunca mais apareceu", relembra Nuno Montenegro, director do serviço de Obstetrícia do S. João, que contabilizou, este ano, cinco recém-nascidos para adopção. Nestes casos, refere o especialista, há que distinguir entre as crianças cujo contexto social ou outros determinam que sejam retiradas aos pais e aquelas cujos progenitores expressam vontade de entregar o bebé noutras mãos.

Na Maternidade Júlio Dinis, no Porto, os abandonos efectivos são pouco frequentes: este ano, houve uma adolescente de 16 anos , à guarda de uma instituição, que aproveitou a "oportunidade" do parto para fugir. Deixou o bebé e, tanto quanto se sabe, ainda não foi localizada. De resto, a maternidade registou quatro adopções.

Em Coimbra, a Maternidade Bissaya Barreto não respondeu ao JN em tempo útil, mas segundo uma notícia publicada em Julho, no primeiro semestre, houve pelo menos dois casos de recém-nascidos abandonados.

Os hospitais de Matosinhos e Braga, Penafiel, Guimarães, Viana do Castelo, Famalicão, Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Bragança, Egas Moniz (Lisboa) e de Portimão tiveram zero abandonos e zero consentimentos para adopção. O Hospital de Gaia teve duas mães que entregaram os filhos. O Centro Hospitalar Lisboa Norte e o Hospital de Faro não responderam às questões do JN.

Aos abandonos nos hospitais, somam-se mais. Nas ruas - como os dois casos que ocorreram este mês em Cascais e Oeiras - nas igrejas e em instituições. Não há um registo nacional de bebés rejeitados, mas a Comissão Nacional de Protecção de Menores diz que, em 2009, 173 crianças até aos cinco anos foram abandonadas.

Inês Schreck, aqui