quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O SOBRENATURAL DE ALMEIDA

Com todo respeito até pela grã-fina que um dia entrou no estádio do Maracanã e perguntou "quem é a bola?", volto a falar dela, da bola. A história da grã-fina é uma das contadas por Nelson Rodrigues, o grande cronista do futebol brasileiro. Esse que tinha 30 anos quando acordou gritando: "Estou cego!" Não era bem assim, via o essencial, só vultos, que é o que basta no assunto. Quase cego mas não surdo, ele seguia o jogo pelos sons do estádio que lhe confirmavam as certezas firmes que já tinha quando lá entrara. Depois, fazia crónicas para a Manchete Esportiva - tão boas que as colectâneas delas ainda hoje são lidas e estudadas, meio século depois de escritas. Foi Nelson Rodrigues, o cegueta, que viu um personagem que sempre esteve lá, no futebol: o Sobrenatural de Almeida. Os mais simples pensam que este era só aquele que marcava golos inacreditáveis. Mas ele representava, sobretudo, o facto do futebol não ter explicação. Ontem, o Sobrenatural de Almeida atacou no estádio Bernabéu, em Madrid. Cristiano Ronaldo anda a perseguir um golo e a glória com tanto afã e tanto azar que até dói. Falhou um golo daqueles de revirar os olhos aos céus, quando o culpado estava tão perto dele que até o encarnava: era o Sobrenatural de Almeida, ontem com a camisola nº 7 do Real Madrid. Claro que vou continuar a seguir este assunto extraordinário.

Ferreira Fernandes, aqui