quinta-feira, 23 de setembro de 2010

MADAÍL À PROCURA DE MADAÍL

Gilberto Madail, presidente da FPF não foi a Madrid procurar contratar José Mourinho para os dois próximos jogos da selecção nacional de futebol. Madail foi a Madrid "buscar" Madail.

Todo este caricato e burlesco episódio, de tão ridículo e confrangedor, mereceria ficar no baú das coisas tristes deste país, se não fosse um outro trecho do universo de tantas outras situações que marcam o dia-a-dia das nossas vidas.

Este episódio reflecte muito do pano de fundo que encobre os enredos de um futebol de que tanto o povo gosta. Mas, sobretudo, é grave por extravasar a esfera desportiva. Pelo mau exemplo de um profissionalismo numa actividade em que este não contemporiza com o amadorismo. Pela desprestigiante imagem que deu do país.

Nem sei como Mourinho, o mais bem pago e profissional treinador do Mundo, caiu nesta esparrela. Numa primeira fase até se saiu bem. Inteligente e tacticamente matreiro como é, fez um discurso a manifestar o seu "amor pátrio" e o desejo que tem de um dia vir a ser, efectivamente, o seleccionador. Ela sabia que o Real Madrid nunca poderia aceitar uma situação destas.

Daí é que não entendo o seu comprometedor "não entendo", ou "os dez dias de férias do Real". Todavia, para perceber este aparente atabalhoamento, talvez seja de não esquecer, de quem se fazia acompanhar Madail. Do homem que mexe com todos os cordelinhos das equipas de futebol deste país, e que tanto pode colocar um Cristiano Ronaldo ou um Mourinho no Real, como um Pongole no Sporting: o empresário Jorge Mendes. E ainda de um outro desapercebido poderoso do futebol português na UEFA: João Rodrigues.

Espantam-me os comentários que classificam este episódio de uma "inteligente" e bem conseguida acção de marketing por parte de Madail. Quem leu por estes dias os jornais estrangeiros percebeu toda a chacota e vergonha deste acto falhado.

Mas o mais grave é que este acto para as "forças vivas" (moribundas?) do futebol português funcionou. Madail fez esquecer o "caso Queiroz", o "desastre" dos cinco pontos perdidos por uma selecção de "craques mundiais", até arranjou espaço para escolher Paulo Bento e, sobretudo, deixou em aberto condições para ser reeleito.

De facto, desde que a selecção portuguesa tem andado nas grandes provas, a FPF tem dinheiro para desbaratar a torto e a direito. Mas nunca encontrou um projecto, um plano, normas e directrizes, para criar condições de valorizar e "enriquecer" o futebol português.

Paquete de Oliveira, aqui