Uma pré-campanha eleitoral pode-se fazer
de muitas maneiras, como nos tem mostrado a maioria nos últimos dias.
Com o primeiro-ministro a banhos, um Pontal, uns tantos cartazes e uma
universidade de verão parecem ser o quanto baste para umas eleições
daqui a cinco semanas.
Mas se a máquina partidária poderá estar a
aquecer o seu motor nos últimos raios de sol do Algarve, a campanha,
essa, já anda pelos ecrãs, pela mão de um vice-primeiro-ministro que
cumpre esta semana um roteiro sobre investimento nem que seja para o
lançamento da primeira pedra da loja IKEA em Loulé.
Não anda
sozinho, porque vários ministérios parecem ter despertado da letargia
para lançar medidas que em alguns casos já tardavam, como o da Saúde e
os médicos de família ou, em outros casos, são para o que há de vir a
seguir. É o Governo que antes de o ser já o é. Como quando o ministro da
Educação promete um concurso para as necessárias obras no Conservatório
Nacional, a ser atribuídas pelo próximo Governo, ou Sérgio Monteiro, o
secretário de Estado do Transportes, promete um IP3 que só fica em plano
ou o ministro Marques Guedes apresenta uma Estratégia de Proteção ao
Idoso, que só pode ser aprovada na próxima legislatura.
É
prerrogativa natural de quem está no poder e se candidata a um novo
mandato esta forma de governação prospetiva, e o Governo vai utilizando
este palco para espalhar a sua mensagem política sem problemas, em
diretos televisivos onde não há contraditório.
À oposição falta
ainda capacidade para introduzir temas de campanha, até porque lhe vai
faltando o outro lado com quem bater bolas, numa estratégia que a PaF
parece estar interessada em seguir. Basta ver a forma como geriu a
polémica à volta dos debates televisivos, conseguindo inviabilizar a
discussão entre todas as candidaturas com uma exigência, inédita e
contrária à lei, de que fosse o número dois da coligação, Paulo Portas, a
comparecer.
É pena que o debate das próximas eleições não se
consiga elevar para lá de umas tantas promessas vazias e algum ruído,
quando o país passou e passa por tantas encruzilhadas. Os partidos terão
o seu papel na disputa que se segue, mas só cresceremos enquanto
sociedade se formos capazes de ter no espaço público as discussões sobre
os temas mais prementes, sejam elas a dívida, o emprego, a segurança
social, o estado social, os imigrantes e os emigrantes, o ensino...
Estou certamente a esperar de mais para a vindima deste setembro.
David Pontes, aqui