quinta-feira, 3 de setembro de 2015

UMA CAMPANHA SUAVE

Uma pré-campanha eleitoral pode-se fazer de muitas maneiras, como nos tem mostrado a maioria nos últimos dias.

Com o primeiro-ministro a banhos, um Pontal, uns tantos cartazes e uma universidade de verão parecem ser o quanto baste para umas eleições daqui a cinco semanas.

Mas se a máquina partidária poderá estar a aquecer o seu motor nos últimos raios de sol do Algarve, a campanha, essa, já anda pelos ecrãs, pela mão de um vice-primeiro-ministro que cumpre esta semana um roteiro sobre investimento nem que seja para o lançamento da primeira pedra da loja IKEA em Loulé.


Não anda sozinho, porque vários ministérios parecem ter despertado da letargia para lançar medidas que em alguns casos já tardavam, como o da Saúde e os médicos de família ou, em outros casos, são para o que há de vir a seguir. É o Governo que antes de o ser já o é. Como quando o ministro da Educação promete um concurso para as necessárias obras no Conservatório Nacional, a ser atribuídas pelo próximo Governo, ou Sérgio Monteiro, o secretário de Estado do Transportes, promete um IP3 que só fica em plano ou o ministro Marques Guedes apresenta uma Estratégia de Proteção ao Idoso, que só pode ser aprovada na próxima legislatura.

É prerrogativa natural de quem está no poder e se candidata a um novo mandato esta forma de governação prospetiva, e o Governo vai utilizando este palco para espalhar a sua mensagem política sem problemas, em diretos televisivos onde não há contraditório.

À oposição falta ainda capacidade para introduzir temas de campanha, até porque lhe vai faltando o outro lado com quem bater bolas, numa estratégia que a PaF parece estar interessada em seguir. Basta ver a forma como geriu a polémica à volta dos debates televisivos, conseguindo inviabilizar a discussão entre todas as candidaturas com uma exigência, inédita e contrária à lei, de que fosse o número dois da coligação, Paulo Portas, a comparecer.

É pena que o debate das próximas eleições não se consiga elevar para lá de umas tantas promessas vazias e algum ruído, quando o país passou e passa por tantas encruzilhadas. Os partidos terão o seu papel na disputa que se segue, mas só cresceremos enquanto sociedade se formos capazes de ter no espaço público as discussões sobre os temas mais prementes, sejam elas a dívida, o emprego, a segurança social, o estado social, os imigrantes e os emigrantes, o ensino... Estou certamente a esperar de mais para a vindima deste setembro.

David Pontes, aqui