Há um pecado
original na venda do Novo Banco.
O regulador não podia fazer de
vendedor. O árbitro não marca golos, falta-lhe instinto e experiência,
além de misturar incentivos contrários: vende pelo melhor preço ou vai
escolher quem lhe dará mais segurança no futuro?
Confrontado com a
obrigação de fiscalizar aquele que é hoje parceiro de negócio, como irá o
Banco de Portugal gerir essa relação incestuosa sem levantar a dúvida
legítima: estará a ser mais benevolente do que com os outros bancos -
alisando-lhe o terreno nos primeiros tempos - ou estará a ser mais duro
para evitar que surjam dúvidas sobre a sua independência?
Que não haja dúvidas: o Novo Banco está a
ser reprivatizado. Não é uma reprivatização clássica, na medida em que
os donos do Novo Banco são todas as instituições financeiras a operar no
país - mas no fundo é disso que se trata, já que a gestão do dossiê é
feita a partir de uma instituição pública, o BdP, sem que os donos
possam interferir. Houve, portanto, uma nacionalização encapotada para
proteger os contribuintes, mas também para blindar o governo que assim
não se expõe. É fácil governar assim, lavando as mãos, mas não é para
isso que serve um primeiro-ministro.
Ontem, o negócio com a Anbang deu o
estoiro. Seguem-se os contactos com a Fosun, depois talvez com a
Apollo. Parece uma missão espacial, não falta sequer a contagem
decrescente. Passos Coelho não está aos comandos, delegou em Carlos
Costa, uma espécie de lobo de Wall Street com a cauda a arder: tem de
vender o Novo Banco em 15 dias para que o défice público não chegue aos
7% do PIB. Será possível fazer um bom negócio assim?
André Macedo, aqui