Quem vir de longe
esta pré-campanha só pode sorrir.
As campanhas eleitorais em Portugal
são feitas de três ingredientes fundamentais: cartazes,
comícios/espetáculo e, pelo menos até este ano, debates televisivos.
É
pena que não se procure ativamente um exercício de marketing político
mais motivador e, já agora, mais atualizado. Afinal que nos dizem as
esfinges retocadas dos cartazes, os cantores de massa dos comícios? Os
debates que se planeiam?
Por qualquer razão que me escapa, em
Portugal as televisões não podem escolher o formato dos seus debates ou a
moderação mais correta, no seu juízo, para cada caso. A obsessão
regulamentar, que raramente garante o pluralismo democrático, obriga a
que as misturas dos candidatos sejam pré-feitas, as intervenções
milimetricamente calibradas e as perguntas rotativamente colocadas
longe, muito longe, da roleta russa que dantes permitia saber quem
ganhava ou quem perdia um debate, e, tantas vezes, umas eleições.
Resultado: foi cancelado o único debate que previa a presença dos principais líderes partidários.
Se
a isto juntarmos cartazes que exibem protagonistas que afinal são
figurantes, desempregados que nunca o foram e frases que são apenas
sopas de letras, ficamos sem dois terços das armas informativas de que
se compõe o nosso período de esclarecimento coletivo.
Restam-nos
os comícios que incluem, como agora se diz, as "arruadas". Nestas
últimas, a coisa parece uma espécie de "comissão da frente" das
procissões, claro que muito mais descomposta. Autoridades e
acompanhantes cumprimentam à esquerda e à direita sem esquecer as
janelas e as varandas. O povo gosta de cumprimentar mas as janelas e
varandas desfeiteiam muitas vezes o esforço dos políticos, nesta fase,
já a suar as estopinhas.
Os comícios, esses, não se distinguem dos
festivais de verão. Quer lá bem a gente saber se é laranja se é rosa.
Vai-se porque canta o grupo A ou B ou se apresenta o intérprete da moda.
Ninguém faz sequer a cerimónia de parecer interessado no que grita
desesperadamente o candidato, acolhido em delírio ensaiado pelos
militantes e pelo hino do partido espremido pelos megafones.
Debater
não é portanto termo que se aplique. E o pior é que este entretenimento
de má qualidade vai custar mais de 7 milhões de euros.
Cristina Azevedo, aqui