Com a profissionalização tremenda da
ação e comunicação políticas, os conceitos de verdade e de mentira são
hoje quase absolutamente relativos.
Junte-se a isso a análise e contra-análise levada ao extremo pelos diferentes campos opostos em presença e chega-se, como seria de esperar, a uma cacofonia competentíssima... e, é claro, à indiferença.
A noção de verdade e mentira está hoje essencialmente corrompida, porque difusa - embora, como nunca no passado, disponhamos de informação competente para podermos pensar.
Porém, nas redes sociais, a liberdade de opinião redunda, com excessiva frequência, num diálogo de carroceiros, e os senhores carroceiros que me desculpem pela comparação, se ainda existirem. Ao contrário, no discurso político formal, a educação mais hipócrita é o padrão dominante.
Se eu disser uma mentira maior do que os Clérigos, o meu opositor nunca me chamará mentiroso.
Retorquirá, isso sim, é claro que a rasgar as vestes e com a devida veemência, que estou a faltar à verdade, que aquilo que afirmei não é verdadeiro, que resulta numa inverdade, e por aí adiante. Da mesma sorte, depois destes rodriguinhos, pode atolar aquele que quer esmagar bolsando uma aldrabice descomunal.
Por exemplo, fonte anónima (tão anónima que, veja-se lá, até pode não existir) diz num jornal que Joaquim afirmou isto ou aquilo. De imediato o oponente vai retorquir, bramando, que Joaquim é inqualificável, e que isso demonstra até à náusea que deve ser condenado à perpétua infâmia política.
Joaquim virá depois dizer que não disse, ou que não disse assim. Mas a máquina trituradora já está em marcha. Porque logo será perguntado: "pois, mas que tem a responder àquilo de que é acusado?" Inútil dizer-lhes que o nosso pobre Joaquim já está em maus lençóis, porque aquilo que ele possa dizer já está atrelado àquilo que dizem que ele disse, tenha ou não dito.
A partir daí, compreende-se que, no séc. XXI, tende a suicidar-se quem continuar a acreditar que o debate político é realizável nos termos antigos. Porque, descrendo cada um de nós que possa ser alcançado o esclarecimento, irá escolher com base noutros fatores, alguns dos quais estéticos, outros determinados por fatores que nada têm a ver com as propostas que vão a jogo ou com a sua ausência. Muito cínico? Talvez, mas é como me dizia um velho amigo: antes cínico que burro.
A noção de verdade e mentira está hoje essencialmente corrompida, porque difusa - embora, como nunca no passado, disponhamos de informação competente para podermos pensar.
Azeredo Lopes, aqui
Junte-se a isso a análise e contra-análise levada ao extremo pelos diferentes campos opostos em presença e chega-se, como seria de esperar, a uma cacofonia competentíssima... e, é claro, à indiferença.
A noção de verdade e mentira está hoje essencialmente corrompida, porque difusa - embora, como nunca no passado, disponhamos de informação competente para podermos pensar.
Porém, nas redes sociais, a liberdade de opinião redunda, com excessiva frequência, num diálogo de carroceiros, e os senhores carroceiros que me desculpem pela comparação, se ainda existirem. Ao contrário, no discurso político formal, a educação mais hipócrita é o padrão dominante.
Se eu disser uma mentira maior do que os Clérigos, o meu opositor nunca me chamará mentiroso.
Retorquirá, isso sim, é claro que a rasgar as vestes e com a devida veemência, que estou a faltar à verdade, que aquilo que afirmei não é verdadeiro, que resulta numa inverdade, e por aí adiante. Da mesma sorte, depois destes rodriguinhos, pode atolar aquele que quer esmagar bolsando uma aldrabice descomunal.
Por exemplo, fonte anónima (tão anónima que, veja-se lá, até pode não existir) diz num jornal que Joaquim afirmou isto ou aquilo. De imediato o oponente vai retorquir, bramando, que Joaquim é inqualificável, e que isso demonstra até à náusea que deve ser condenado à perpétua infâmia política.
Joaquim virá depois dizer que não disse, ou que não disse assim. Mas a máquina trituradora já está em marcha. Porque logo será perguntado: "pois, mas que tem a responder àquilo de que é acusado?" Inútil dizer-lhes que o nosso pobre Joaquim já está em maus lençóis, porque aquilo que ele possa dizer já está atrelado àquilo que dizem que ele disse, tenha ou não dito.
A partir daí, compreende-se que, no séc. XXI, tende a suicidar-se quem continuar a acreditar que o debate político é realizável nos termos antigos. Porque, descrendo cada um de nós que possa ser alcançado o esclarecimento, irá escolher com base noutros fatores, alguns dos quais estéticos, outros determinados por fatores que nada têm a ver com as propostas que vão a jogo ou com a sua ausência. Muito cínico? Talvez, mas é como me dizia um velho amigo: antes cínico que burro.
A noção de verdade e mentira está hoje essencialmente corrompida, porque difusa - embora, como nunca no passado, disponhamos de informação competente para podermos pensar.
Azeredo Lopes, aqui