1. Nunca se tinha
anunciado tanto confronto de ideias. Só frente a frente entre os
diferentes líderes dos partidos com representação parlamentar seriam 12
(com Costa e Passos a repetirem a dose três vezes).
E mais dois debates
com a presença simultânea de todos os candidatos da primeira liga. Ao
todo, 14 oportunidades para uns quantos eleitores avaliarem os dotes de
oratória e a consistência das propostas de cada um dos candidatos. Ainda
que se deva admitir que, dado o atual nível de estima pela política e
pelos políticos, para outros tantos fosse um pesadelo a evitar.
Na
verdade, nunca saberemos se seria uma boa medida para diminuir a
abstenção, ou se, pelo contrário, se corria o risco de fazer crescer o
número dos que já não se dão ao trabalho de acorrer às mesas de voto,
uma vez que a vertigem circense que sempre toma conta dos partidos
nestas alturas se encarregou de provocar uma erosão nos debates,
porventura até não sobrar nenhum. Seja porque a coligação PSD/CDS quis
impor Portas, seja porque a Oposição vetou Portas - um enigma ao nível
daquele do ovo e da galinha -, as comadres zangaram-se e o número de
debates diminuiu de dia para dia.
Não tarda e ficaremos reduzidos
ao que verdadeiramente interessa: duas ou três ideias repetidas até à
náusea em sucessivos comícios, o som dos bombos nas arruadas, o
entusiasmo dos convertidos que carregam as bandeirinhas nas feiras e os
cartazes nas rotundas com fotos narcisistas e frases vazias.
Do
mal, o menos, esta história já permitiu um daqueles momentos que marcam
todas as campanhas: Paulo Portas, sentido de humor refinado, lembrou que
"em nenhum país comunista haveria um debate com os adversários
políticos, porque, se houvesse, era o último (...) Como sabem, ou lhes
cortavam a cabeça ou os prendiam". Podem rir, era para ter graça.
2.
Se a trapalhada da privatização da Metro e da STCP serve para alguma
coisa é para demonstrar a urgência de uma reforma administrativa que
permita atenuar a asfixia centralista que se acentuou nos últimos anos,
chamem-lhe regionalização ou outra coisa qualquer. Entre as forças
políticas do Porto, haverá quem não concorde de todo com a concessão de
um serviço público a privados, como haverá quem a aceite, ainda que em
termos diferentes dos que impõe o Terreiro do Paço. Com o que ninguém
pode concordar é que uma decisão desta importância seja tomada à pressa e
às escondidas do poder local, aquele que, com todos os seus defeitos,
melhor conhece e defende os interesses dos habitantes da Área
Metropolitana do Porto.
Rafael Barbosa, aqui