Se o aumento da taxa de colesterol é um meio que o organismo encontra
para se proteger, então baixar a sua taxa com medicamentos não parece
boa ideia.
Na luta contra as doenças cardiovasculares, sempre que se pensa em
arteriosclerose é admitido, desde há muito tempo, que o culpado é o
colesterol que se vai depositando nas artérias, entupindo-as
progressivamente a uma velocidade proporcional ao seu nível no sangue.
Ora a verdade é que esta teoria não repousa em nenhum dado científico
bem sustentado.
Reportando-nos
exclusivamente aos problemas cardiovasculares, têm-se negligenciado
muitas vezes a importância dos numerosos efeitos secundários provocados
pelos tratamentos para baixar o colesterol, essencialmente perda de
memória, fraqueza muscular e ligamentosa, impotência sexual e diabetes
tipo2, alterações digestivas e hepáticas, dores de cabeça, edemas,
vertigens, alterações cognitivas e alergias cutâneas.
No caso das
estatinas, drogas que bloqueiam, no fígado, a enzima responsável pela
produção do colesterol, essencial para a nossa sobrevivência, talvez nos
dias que correm os medicamentos que mais se vendem em todo o mundo,
utilizadas para baixar o colesterol total e a fracção LDL do colesterol,
(sendo que este último, embora não seja mais que um transportador do
colesterol do fígado, onde ele é fabricado, para os tecidos que dele têm
necessidade é considerado ridiculamente “mau colesterol”, em
contraponto com a fracção HDL, considerada “bom colesterol”, outro mero
transportador do mesmo colesterol, dos tecidos que o utilizaram, para o
fígado - a sua central de fabrico e reciclagem), o risco de diabetes e
obesidade resultante da sua toma foi ainda há pouco tempo denunciado
pela comunidade científica.
Assim, em Março de 2012 a Agência
Europeia do Medicamentos (EMA) reconheceu a gravidade do efeito
diabetogénico das estatinas e recomendou aos laboratórios que os seus
efeitos secundários passem a ser claramente anotados nas normas de
utilização, norma que, parece, nem sempre cumprida.
Mas não é
tudo. Começa a aparecer cada vez mais evidência mostrando que as
estatinas pioram também a saúde cardíaca, revelando não só que não
seguras como também não são muito eficazes.
Um estudo recentemente
publicado, revelou, em contraste com o aquilo que é hoje comummente
aceite (a redução do colesterol com estatinas diminuem a
arterioesclerose), que estas drogas podem, pelo contrário, estimular a
arteriosclerose e a insuficiência cardíaca (Expert Review of Clinical Pharmacology.2015 Mar;8(2):189-99).
Alguns mecanismos fisiológicos discutidos no estudo mostraram que as estatinas podem piorar a saúde do coração de várias formas:
- Inibindo a função da vitamina K2, necessária para proteger as artérias da calcificação;
- Danificando a mitocôndria, prejudicando a produção de ATP (responsável pela energia do músculo cardíaco).
- interferindo com a produção de CoQ10, como se referirá mais adiante;
-
O mesmo com proteínas contendo selénium, tais como a glutationa
peroxidase, cruciais para prevenir o dano oxidativo do tecido muscular.
Considerando todos estes riscos, os autores concluíram que “as
epidemias da insuficiência cardíaca e arteriosclerose, quais pragas do
mundo moderno, podem ser paradoxalmente agravadas pelo uso difuso de
estatinas. Nós propomos que os correntes manuais de tratamento com
estatinas sejam criticamente reavaliados”.
No que diz
respeito às doenças cardiovasculares, em que o colesterol teima em
aparecer como o mau da fita, há uma grande incerteza sobre as suas
causas e têm surgido as teorias mais contraditórias.
Sabe-se que
aquilo a que se chama “placa” ateromatosa, que reduz o diâmetro das
artérias, é principalmente constituída por células compostas pelo tecido
muscular liso das artérias (proliferarando anormalmente), cálcio, ferro
e colesterol, sendo este minoritário, funcionando como um curativo qual
penso reparador do desgaste provocado pela inflamação da parede
das artérias, esta sim a verdadeira má da fita nesta questão da formação
da placa ateromatosa e da consequente arteriosclerose. Daí a
importância do seu biomarcador – a PCR (Proteína C Reativa) – estar
abaixo de 0,5. Quem o tem abaixo deste valor pode comer gorduras à
vontade.
Sendo assim, se o aumento da taxa de colesterol é um meio
que o organismo encontra para se proteger, então baixar a sua taxa com
medicamentos, estatinas ou quaisquer outros, não parece boa ideia.
Se
as taxas estiverem elevadas, tal deverá ser sempre considerado como um
problema essencialmente de estilo de vida, que se corrigirá,
prioritariamente, modificando o comportamento e a alimentação (de
relevar a toma diária de 3 gramas diários de Ómega 3).
As únicas
pessoas que podem tirar partido das estatinas são as que sofrem de
hipercolesterolémia familiar, uma doença rara que dá uma taxa elevada de
colesterol (para cima de 330) qualquer que seja a alimentação e o modo
de vida. Se se tiver que as tomar, dever-se-á tomar também CoQ10 ou
ubiquinol, co-enzimas também anti-oxidantes cuja produção está
igualmente bloqueada pelas estatinas.
Para reduzir o risco cardiovascular, as melhores medidas a tomar são:
-
Substituir a alimentação industrial, transformada e artificial, por
alimentos frescos pouco cozinhados, se possível biológicos, cultivados
localmente;
- Aumentar o consumo de gorduras boas para a saúde
como o abacate, peixes gordos, ovos biológicos inteiros, gordura de noz
de coco, nozes, amêndoas, avelãs e azeite, de forma que o rácio entre o
ómega 3 e o ómega 6 ande entre 1/1 e 1/5 (e não 1/20 como acontece com a
actual alimentação ocidental);
- Optimizar a ingestão de cálcio, magnésio, sódio e potássio, optando sempre que possível por legumes biológicos;
-
Monitorar a taxa de vitamina D optando pela exposição ao sol –
conseguir-se-ão níveis óptimos com uma exposição de 20 minutos em pelo
menos ¾ partes do corpo -, acompanhada de vitamina K2 para evitar a
calcificação das artérias;
- Restaurar os níveis hormonais, principalmente da testosterona, com hormonas bio-idênticas;
- Parar de fumar e não beber mais de um copo de vinho tinto por dia;
- Fazer exercício físico regularmente;
-
Cuidar da higiene bucal e dentária – as pessoas com má higiene da sua
boca têm 70% de risco de desenvolver uma doença cardíaca em contraponto
com as pessoas que lavam os dentes pelo menos duas vezes por dia;
-Evitar
as estatinas (salvo no caso da hipercolesterolémia familiar), que fazem
baixar as taxas de colesterol artificialmente, sem esforço, mas com o
risco de numerosos efeitos indesejáveis, como se referiu.
-
Melhorar a sensibilidade à insulina – para tal optar por um regime com
índice glicémico baixo como a batata-doce (melhor que a batata), o mel
(melhor que o açúcar), as leguminosas como as ervilhas, os feijões e as
favas (melhor que os cereais).
Com esta finalidade, considerar também o ácido alfa-lipóico (400 mg/dia).
O
colesterol é uma molécula natural produzida 70% pelo organismo,
principalmente pelo fígado, (os restantes 30% provêm dos alimentos), que
o utiliza como um verdadeiro cimento: ao nível dos músculos, para os
reparar quando estão fragilizados depois dum exercício físico; ao nível
do cérebro, para ajudar os neurónios a melhor comunicar entre si; ao
nível das artérias, para as reparar quando são lesadas.
Ele é uma
das substâncias mais importantes, não só indispensável à regeneração das
células e à formação das suas membranas, à metabolização de vitaminas
como a A, D, E e K, à produção de ácidos biliares importantes na
digestão das gorduras, essencial, como se disse, para o cérebro (contém
cerca de 25 % de todo o colesterol do corpo, sendo critico na formação
das sinapses que permitem o pensamento, a aprendizagem e a formação da
memória) como à síntese de hormonas tão vitais para a nossa existência
como as hormonas sexuais – testosterona, progesterona e estrogéneo (há
quem considere que ter taxas de colesterol elevado a partir dos 65 anos é
sinal de longa vida e de virilidade...), as hormonas do stress –
glucocorticóides como o cortisol, e à mais importante de todas – a
vitamina D, como as hormonas sexuais ela também uma hormona esteróide,
sendo que uma pele com níveis insuficientes de colesterol não é capaz de
a produzir.
Manuel Pinto Coelho, aqui