Afinal, parece que é tudo
uma questão de azedume, como classifica o vice-presidente e porta-voz
do PSD.
Marco António Costa queixa-se que a Oposição fica
particularmente ácida quando confrontada com as boas notícias na
diminuição do desemprego. E o azedume, concorde-se, é um sentimento
lixado que tolda o espírito na altura de fazer qualquer análise.
E não, não foi um lapso e não vou falar de desemprego. O
problema está mesmo no emprego. É exatamente porque um condiciona o
outro que se pode, na hora de fazer as contas, ser obrigado a pesar
laranjas para decidir se a saca de batatas encolheu ou ficou mais cheia.
Há,
a nível nacional, mais de 250 mil cidadãos em situação de subemprego -
ou seja, que têm um part-time indesejado e não conseguem aceder a um
horário completo. Quase idêntico número está em formação profissional ou
em estágio. Perto de 500 mil pessoas emigraram durante esta legislatura
e estão a trabalhar, mas no estrangeiro. E há ainda que ter em conta o
emprego sazonal, precário, que tende a subir em ciclos de crescimento do
turismo, como é este ano o caso.
Não é preciso ser brilhante a
matemática para perceber que os motivos para celebrar as estatísticas do
desemprego são curtos. E que é preciso fazer muito mais pela economia
para que a criação de emprego seja real, sustentada e assente em
relações contratuais estáveis. E, já agora, confirmada pela evolução dos
salários médios praticados.
É certo que a silly season convida a
sentimentos descontraídos, sol e mar com fartura, sugestões leves de
verão e primeiras páginas embelezadas por biquínis. Discussões e temas
sérios são para a rentrée, que ainda por cima este ano nos trará
política até mais não. Mas já que há tantos cidadãos desempregados ou em
part-times de verão, angustiados pela incerteza do amanhã, que nem
sabem se hão de rir ou chorar com este descascar de cebolas, permitam-me
o azedume. Em nome deles.
Inês Cardoso, aqui