Respigada do Novo
Evangelho, a pergunta acima é a que mais nos assola a todos por estes
dias. A uns mais conscientemente e a outros, a fazer de conta que não
querem saber.
É absoluto o sentimento de perplexidade que tem de nos tomar quando um conjunto de responsáveis políticos de nações europeias e de altos responsáveis de instituições financeiras insistem em lidar com a paz na Europa como se compõe um balanço - forçando uma paridade contabilística.
Ou seja, fazendo duas contas:
- do lado das entradas: quanto dinheiro temos de emprestar à Grécia para que nos pague e qual o mínimo que terá de sobrar para que não cedam à tentação de imprimir papel-moeda e, assim, nos tramarem a todos?!
- do lado das saídas: qual o pacote de reformas que é obrigatório inscrever sabendo que, por mais razoáveis que sejam, obviamente não podem ser implementadas agora. Porque, afinal, ninguém faz ginástica ou ganha músculo quando está quase a morrer.
E assim se adia um problema que é, como sempre foi, um problema da construção europeia e de cujas consequências a Grécia se tornou, infelizmente, o porta-bandeira.
Pelo meio, um remexer violento na ferida aberta de um país a quem Cristo, seguramente, não atiraria a primeira pedra.
Por isso, não há como não ver:
- que se e empurrou a discussão sobre a efetiva necessidade de reestruturação da dívida grega para depois do verão, na melhor das hipóteses;
- que só uma decisão desse tipo tornará a moeda única um projeto irreversível e a construção europeia um projeto em movimento;
- que os mercados não perdoarão hesitações e logo engolirão os bons exemplos, os bons alunos e os menos bons;
E também não há como não ouvir:
- o desconforto da generalidade dos cidadãos europeus com tudo isto;
- e sobretudo o grito de guerra que se agiganta no rumorejar aflitivo dos gregos;
Por isso, soam a condenação antecipada os comentários irresponsáveis de quem, do alto da sua absoluta irrelevância, se assume como experimentado observador de crises internacionais e sanciona os resultados como quem aprova umas reguadas nas mãos do menino zezinho!
Cristina Azevedo, aqui