A saída de Portugal
do euro é um tema pouco prometedor para quem anda à caça de votos.
Bastariam as imagens de pensionistas em pânico à porta dos bancos
gregos, as filas permanentes junto dos multibancos, a desagregação
económica, social e agora política da Grécia, para desmotivar até um
adicto em temas fraturantes. E não será portanto surpreendente que, até
outubro, todos os partidos portugueses fujam desse debate como o Diabo
da cruz.
Todos? Não. Como quase sempre, os irredutíveis gauleses
do PCP enfrentam os tabus sem medo. E não é, como já se percebe, por
razões eleitoralistas. Tão-só porque - como reforçou o secretário-geral
comunista, em entrevista ao JN - seria "criminoso" não preparar esse
cenário. Sobretudo quando, como ficou evidente na tragédia grega, a
expulsão do euro pode depender de um capricho alemão despachado numa
dúzia de linhas de uma folha A4, durante uma reunião do Eurogrupo.
"Não
preparar o país e não estudar as consequências de uma saída significa
desarmar Portugal", avisa Jerónimo de Sousa. Premonição indiretamente
confirmada por Alexis Tsipras, ao reconhecer que a situação no seu país
chegou a um ponto tal que, mesmo que o quisesse, a Grécia já não tem
dinheiro em caixa nem para sair do euro e voltar à dracma.
Significa
isto que o PCP tem razão quando acrescenta que a saída do euro pode ser
a melhor opção para Portugal? Não sendo especialista, respondo com
alguns alertas feitos em tempo por Eugénio Rosa, economista e também
comunista: "Como assegurar o poder de compra das poupanças de milhões de
portugueses? (...) Como evitar que a dívida das famílias (credito à
habitação) se transforme num instrumento de ruína para centenas de
milhares? (...) Como evitar a implosão do sistema financeiro fundamental
para funcionamento normal da economia?"
Como se lê, temas
depressivos para campanhas eleitorais que se querem cheias de esperança,
mudança ou estabilidade. Acontece que evitar essa discussão, no momento
em que todas as luminárias, da direita à esquerda, da Lapónia à
Sicília, do cabo da Roca a Vilnius, assinalam que estamos a assistir ao
princípio da desagregação da zona euro, ou fugir ao assunto com
afirmações simplórias do género "Portugal não é a Grécia" não chega.
Infelizmente,
as campanhas eleitorais servem menos para debater o futuro do país e
mais para repetir, até à náusea, três ou quatro frases feitas. É mais
glamoroso e eficaz prometer a devolução da sobretaxa do IRS, ou a
descida da taxa social única. E é por isso que é importante dizer -
concorde-se ou não com uma eventual saída do euro - que pelo menos os
comunistas, tal como se disse dos gregos, depois do referendo, pelo
menos os comunistas, dizia, têm-nos no sítio.
Rafael Barbosa, aqui