quarta-feira, 15 de julho de 2015

ERA A NÓS, SENHORES!

1. A dívida grega (312,7 mil milhões de Euros) está sobretudo nas mãos das instituições públicas europeias e do FMI.

2. Podem, por isso, calar-se de vez as vozes desinformadas que ainda lançam anátemas sobre o JP Morgan ou o Goldman Sachs.

3. Já tiveram, é verdade, a sua quota-parte nesta desgraça coletiva mas souberam escapar a tempo à debacle, e agora o assunto não é mesmo com eles, nem por causa deles.


4. É aos contribuintes europeus, sobretudo aos alemães e aos franceses, a quem cabe decidir se perdoam ou não a dívida aos gregos.

5. Por isso, senhores, o referendo deveria ter-nos sido dirigido.

6. A pergunta em vez de ser sobre uns obscuros e desconhecidos relatórios, seria país a país : "está disposto a pagar mais x de impostos durante x anos para conseguir dar uma segunda oportunidade à União Europeia"?

7. Matavam-se dois coelhos com uma só cajadada: por um lado perguntava-se a quem vai pagar se estava disposto a fazê-lo, e, por outro, elevava-se a União a uma entidade política democrática onde a voz dos cidadãos se procura ouvir com respeito e sentido de obediência soberana;

8. Reparem que pagaremos de qualquer maneira; ou a União aceita renegociar a dívida, e somos nós que pagamos, ou a Grécia deixa de honrar os seus compromissos e somos nós a pagar.

9. Por isso, perdeu-se tempo e feitio.

10. O "oxi" grego não foi mais do que um desabafo, aproveitando a oportunidade dada por um Governo que mascarou de consulta democrática um impasse negocial do qual não soube sair e a falta de coragem de um colégio europeu permanentemente gago.

11. A Imprensa internacional diz que está tudo nas mãos de Merkel e que esta é uma espécie de líder bipolar, ora Merkel números, ora Merkel Europa. Negociou lenta e monocórdica como se fosse possível, por inércia, chegar a um acordo e agora, que todos bateram contra a parede, deu-se conta de que pode morrer na praia, sem números e sem liderança europeia.

12. Que bom seria se, pelo menos internamente, os partidos políticos chamassem o nome aos bois.

13. Se tivessem a coragem de perguntar: "Estão dispostos a pagar"?

14. Era tal o alívio, que todos perdoaríamos as cautelas e caldos de galinha que, a toda a hora, nos enfiam pela nossa democrática garganta.

Cristina Azevedo, aqui