quinta-feira, 4 de junho de 2015

O INSUSTENTÁVEL PESO DAS PENSÕES

Maria Luís Albuquerque é uma mulher corajosa.
 
Que começa a correr em pista própria. Porque acreditou no que alguém lhe sussurrou e vê no caminho da política um lugar na liderança do PSD. Mas para saber correr é preciso conhecer o caminho. Ou atropela ou é atropelada. E agora está a atropelar.
 
Foi ela quem inscreveu no Plano de Estabilidade o corte de 600 milhões de euros na Segurança Social. Tinha de sobrar para alguém. Assumiu-o. É essa a parte da coragem. A poucos meses das eleições, quando tudo se decide na cabeça dos portugueses entre junho e julho, levantar o cutelo sobre os reformados é obra. Chutar a seguir para um compromisso com o PS mais ainda.
 
Do programa dos socialistas, neste ponto que é absolutamente estruturante, consta algo como rentabilizar o Fundo de Estabilidade Financeira da Segurança Social em projetos de reabilitação urbana. Haveremos de perceber.
 
Mas recuemos umas décadas. Pelo menos desde finais dos anos 80 que a sustentabilidade das reformas é posta em causa. Primeiro porque o país não pára de envelhecer; segundo porque o valor das prestações sobe enquanto o das contribuições diminui; terceiro porque a fórmula de cálculo do pagamento, até à reestruturação feita há dez anos por Vieira da Silva, permitiu as maiores alcavalas, fazendo com que hoje uma grande maioria das pensões mais elevadas esteja a ser paga não com base em toda a carreira contributiva, mas apenas a partir do cálculo dos melhores dos últimos anos.
 
Os governos têm ajudado à festa. Desde logo porque não cumprem. Se este país fosse transparente, saberíamos hoje, preto no branco, quanto ficaram a dever por não terem efetuado as transferências a que estão obrigados. Votar em consciência é também isso.
 
É aqui que a ministra das Finanças atropela. A coligação. E os reformados. E estes são o elo mais frágil da sociedade. Ou pelo menos a maioria. Não há mercado, nem sequer de biscates, para os velhos. Se perdem dinheiro, perdem tudo. E a família é agora um salve-se quem puder.
 
A coligação sustém a respiração. Quando tudo parece estar a correr menos mal, é quando começa a correr pior. Quando sobra ao PSD algo mais do que correr atrás do prejuízo da apresentação do programa eleitoral do PS, e decretar já não o fim da austeridade mas o princípio do crescimento, é quando se desnuda a irrelevância do que andámos a fazer nestes anos duros.
 
Assim não se ganham eleições. Mas os governos mudam. A vida das pessoas é que parece que não.
 
Domingos de Andrade, aqui