sexta-feira, 1 de maio de 2015

TEMPO PARA MORRER

Nesta mediocracia que nos governa, o tempo eleitoral é sempre tempo para morrer.
 
Qualquer ideia, personagem ou organização é violentamente descascada e exposta sem outro objetivo que não seja o do prazer de celebrar uma morte anunciada.
 
Daí que tenha afirmado, numa destas minhas escritas, que para António Costa as propostas a apresentar seriam sempre demasiado serôdias para quem as reclama e demasiado temporãs para o próprio que mal as verbalize, ou por entreposta pessoa, se sujeita ao tirocínio do ecrã ou da pena.
 
Meu dito, meu feito. Mesmo que contidas num documento que se intitula "Uma década para Portugal", as propostas apresentadas pelo líder da Oposição já foram quase todas descartadas ainda antes de oficialmente apropriadas ou de sequer decentemente estudadas e explicadas.
 
Note-se que António Costa e o PS são protagonistas circunstanciais. Quaisquer outros candidatos ou partidos se sujeitam ao mesmo.
 
Assim, e enquanto o F. C. Porto agonizava às mãos dos bávaros, decretou-se genericamente que:
 
1. A apresentação não foi consistentemente enquadrada num referencial europeu;
 
2. Muitos dos resultados e algumas medidas estão fora do alcance temporal da próxima legislatura;
 
3. A opção pela apresentação de medidas com impacto em determinados grupos específicos foi eleitoralista - os desempregados, os pensionistas, os funcionários públicos;
 
4. As contas sobre a capacidade de absorver despesa e de gerar receita não foram claras;
 
5. O rol de medidas não se enquadra integralmente num quadro macroeconómico tornando o discurso um pouco confuso;
 
6. A herança do que foi bem feito não foi assumida, o que torna apenas eleitoral a assunção de que se trata de "um virar de página à austeridade";
 
7. A verdadeira alternativa a apresentar seria a outra governação que, nestes últimos cinco anos, teria dado mais resultado. Essa ainda é a explicação que faz falta.
 
Pode ser que sim, pode ser que não. Mas, como no romance, há tempo para amar e há tempo para morrer. Por uma cidadania livre e esclarecida, à pergunta de Elizabete "o que é que para ti ainda tem importância?", respondamos como Ernst "que ainda não estejamos mortos!".
 
Cristina Azevedo, aqui