Ninguém leva a mal que os socialistas andem a
brincar a ser governo antes de o ser.
Como ninguém com certeza levará a
mal que os social-democratas já andem a brincar a ser oposição antes de o
ser.
Aliás, ainda hoje, em Vila Franca de Xira, o PSD vai organizar um
debate insólito, com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, subordinado
ao tema “O partido na oposição”.
Quem teve a ideia de debater o tema
‘como estar na oposição’ em véspera de eleições legislativas só pode ser
um génio da política.
Ainda ontem
António Costa duvidada da legitimidade do Governo para poder tomar uma
decisão sobre o futuro da TAP quando está tão perto de terminar a
legislatura. Para o secretário-geral do PS, o prazo de validade desta
maioria está a chegar ao fim e diz que “em condições normais daqui a
três semanas este Governo cessaria funções”. A tese de Costa é que a
Constituição prevê mandatos de quatro anos e este Governo já vai levar
um bónus de alguns meses extra de governação. O problema é que a lei
eleitoral determina como data de eleições o período de 14 de Setembro a
14 de Outubro.
Sempre que há eleições antecipadas, como aconteceu em
Junho de 2011, o Governo eleito depois ganha alguns meses de bónus. O
próprio António Costa deve lembrar-se deste capricho eleitoral já que o
primeiro governo de José Sócrates, do qual ele fez parte, esteve a
governar quase cinco anos em virtude das eleições antecipadas que se
seguiram à queda de Santana Lopes.
Portugal tem neste momento dois
governos a governar o país ao mesmo tempo. Um que já é e outro que acha
que vai ser. Um, o do PSD/CDS, governa às segundas, quartas e sextas e o
outro, o do PS, às terças, quintas e sábados. O primeiro é um governo
eleito democraticamente e que tem toda a legitimidade para governar até
Setembro/Outubro, altura em que os portugueses vão a votos dizer se
querem continuar com este ou se o querem trocar pelo outro. O segundo
vai-se fiando nas sondagens e pensa, também com igual legitimidade, que
será governo daqui a cinco meses.
À segunda-feira, o Governo diz
que vai privatizar a TAP e à terça o PS diz que é contra a privatização.
À quarta Passos Coelho diz que a privatização é a única forma de salvar
a empresa e à quinta-feira os socialistas dizem que é preciso consultar
Bruxelas para saber se é possível uma injecção de dinheiros públicos. À
sexta-feira, o Governo faz ouvidos de mercador e abre o concurso para
vender 100% da TAP. Ao sábado, António Costa diz que “ninguém pense em
comprar mais de 49% da TAP”. E ao domingo já não os podemos ouvir, nem a
um, nem a outro. É uma irresponsabilidade do lado do Governo avançar
com uma operação desta monta sem tentar um mínimo de consenso com o PS e
é uma aberração a atitude dos socialistas de tentar boicotar a venda
com ameaças de reverter o negócio quando chegarem ao poder. Não há
paciência.
O mesmo se está a passar com os transportes terrestres,
com o PS a vir anunciar esta semana que vai anular o concurso do
Governo para a subconcessão a privados do Metro de Lisboa e da Carris no
caso de vencer as próximas eleições legislativas.
Nestas coisas
da política a vingança serve-se fria. Ainda há dias António Costa
acusava o Governo PSD/CDS-PP de chegar ao poder “e achar que o país era
uma folha em branco”. O secretário-geral do PS dizia que o Governo não
foi capaz de conviver com nenhuma das marcas de sucesso da governação
socialista, dando como exemplo o Simplex e as Novas Oportunidades. Os
socialistas preparam-se para retribuir a cortesia. Reformas como a do
IRC, do quociente familiar, ou das freguesias, que são bandeiras desta
governação, também devem ser atiradas borda fora caso o PS ganhe as
eleições.
Um faz, o outro desfaz; um monta o outro desmonta; um
constrói e o outro destrói. E nós votamos, ora num, ora noutro, mas às
vezes só apetece desvotar.
Pedro Sousa Carvalho, aqui