sábado, 18 de abril de 2015

LIGAÇÕES DIRECTAS


As grandezas deste mundo
São coisas de ocasião,
Não as levas para o fundo
Não as levas no caixão.
 Manuel Marques da Conceição (Poceiro)
 
Como tinha dito, lá fui à capital ver o meu Sporting deixar os lampiões em 3º lugar classificar-se, de forma brilhante, directamente para a Champions League.
 
Foi lindo.
 
E ainda que o executivo municipal ao antever que a transmissão televisiva do futebol ia deixar a sessão de encerramento da “festa das associações” às moscas,  tivesse optado por projectar os jogos na zona desportiva, o certo é que ao vivo e a cores é outra coisa. Mas porque para o peditório da vitória no campeonato já contribuí com ingenuidade quanto baste, vamos ao que interessa, que foi a noitada de encerramento da “festa das associações”: à minha frente estava uma loira oxigenada, com as raízes dos cabelos pretas e o resto da pilosidade capilar amarelinha que nem uma espiga de arroz dos campos do Cértima, daquelas que fazem lembrar a Quinta-feira da Ascensão gema de ovo. Ao lado da loira, estava um senhor a mamar saborear um charuto barato que se apagava constantemente e que durou o espectáculo todo. Mais ao lado, um casal jovem de Coca-Cola e cigarro em punho; moderados, porém, tanto no cigarro como na Coca-Cola. Ao lado destes, outro casal, de quarentões, em que a senhora, bem maquilhada e com olhar provocante, fumava desalmadamente e o senhor via-se bem que não tinha peso para a grade fumava nada.
 
Algures lá atrás, uma família de ucranianos às voltas com o sacana do puto que não se calava, mas cuja voz nunca ouvi, pois os guinchos da senhora sua mãe abafavam tudo.
 
Já o espectáculo decorria e eis que se instalaram três labregos jovens ao meu lado esquerdo.
 
A rondar os trinta anitos, tresandavam a levedura, falavam alto, não diziam nada de jeito. Deviam de ter vindo da praia, pois ainda traziam areia no pescoço.
 
A não ser que fosse sarro, mas fiz questão de manter a dúvida e, por via disso, não me aproximei muito deles.
 
O que estava ao meu lado pôs por duas vezes as patas os pés descalços debaixo dos chanatos do fulano da Coca-Cola e levou logo duas pisadelas naquelas unhas sebentas que o fizeram saltar do sítio.
 
Atrás, estava um velhote que comentou tudo o que rodeou o espectáculo, e até o tingimento capilar da vereadora e a cor da gravata do presidente da câmara o homem deu a sua opinião.
 
Nada de especial estes pormenores até faziam lembrar as romarias ao Buçaco deram um carácter pitoresco à “festa das associações” que fez de conta foi a comemoração da Quinta-feira da Ascensão se tratasse, uma requintada original forma de fazer política populista através da apresentação de associações atadas de pés e mãos pela subsidio-dependência o que constitui a mais recente demagogia coqueluche do executivo municipal.
 
Temi o pior, temi uma noite inteira a ter que levar com estes três do lado esquerdo, mas acabei por me aperceber de que estes espécimes eram cromos a tempo inteiro espectadores que ali estavam por mero acaso, pois tinham saído em direcção às tasquinhas da cerveja e já não voltaram.
 
A festa até esteve gira, mas não se pode dizer que fosse perfeita; porque perfeita, perfeita, mesmo perfeita, só se tivessem estado presentes todas, ou pelo menos a maioria das associações do concelho, incluindo aquelas cujas direcções que, por um ou outro motivo, não sabem que basta organizar um torneio de bisca lambida, de jogo da macaca, ou até mesmo de matraquilhos, para que a autarquia, em demagógico eleitoralismo, ofereça magnânimemente camisolas ou bonés, cartazes, tarjas, lonas ou outdoors, programas ou qualquer outro artigo produzido numa qualquer tipografia oficial do regime que as mantenha umbilicalmente ligadas a um beija-mão subserviente puderam participar já este ano.
 
No entanto, nada de preocupante, para o executivo municipal porque o mandato ainda nem a meio vai. Para o ano há mais e, se calhar, o espaço já vai ser pequeno para essa celestial subsidio-dependência adesão…
 
Quanto ao resto, ao espectáculo e à actividade do executivo municipal do meu concelho, é já com água na boca que aguardo pacientemente, por melhores dias pelas surpresas e novidades com que, daqui em diante, todos seremos brindados.
 
Espero sinceramente que para o próximo ano, como sinal de engrandecimento, haja uma corrida de avestruzes depois de uma largada de pombos. E, para o ano seguinte, uma corrida de crocodilos. No mínimo…
 
É o que nos salva a nós, que somos crentes e pessoas com fé…
 
PS: Como não há duas sem três, cá estou eu outra vez a pedir desculpa por esta minha opinião voltar a ser publicada como se de um rascunho se tratasse, mas a verdade é que ainda não consegui sossegar o espírito.
 
Depois do melão com que fiquei por não ver o meu Sporting sagrar-se campeão de uma cansativa viagem de ida e volta a Lisboa no espaço de sete horas, nem mesmo a oração de sapiência proferida pelo presidente da câmara e respectivo acólito durante a sessão de encerramento da “festa das associações” conseguiu levantar-me o moral…
 
Prometo esforçar-me muito pouco ou mesmo nada para que tal não volte a acontecer.