As grandezas deste mundo
São coisas de ocasião,
Não as levas para o fundo
Não as levas no caixão.
Manuel
Marques da Conceição (Poceiro)
Como tinha dito, lá fui à
capital ver o meu Sporting deixar os
lampiões em 3º lugar classificar-se, de forma brilhante, directamente para
a Champions League.
Foi lindo.
E ainda que o executivo
municipal ao antever que a transmissão
televisiva do futebol ia deixar a sessão de encerramento da “festa das
associações” às moscas, tivesse optado
por projectar os jogos na zona desportiva, o certo é que ao vivo e a cores é
outra coisa. Mas porque para o peditório da
vitória no campeonato já contribuí com ingenuidade quanto baste, vamos ao
que interessa, que foi a noitada de encerramento da “festa das associações”: à
minha frente estava uma loira oxigenada,
com as raízes dos cabelos pretas e o resto da pilosidade capilar amarelinha que
nem uma espiga de arroz dos campos do
Cértima, daquelas que fazem lembrar a Quinta-feira da Ascensão gema de ovo.
Ao lado da loira, estava um senhor a mamar
saborear um charuto barato que se apagava constantemente e que durou o
espectáculo todo. Mais ao lado, um casal jovem de Coca-Cola e cigarro em punho;
moderados, porém, tanto no cigarro como na Coca-Cola. Ao lado destes, outro
casal, de quarentões, em que a senhora, bem maquilhada e com olhar provocante,
fumava desalmadamente e o senhor via-se bem que não tinha peso para a grade fumava nada.
Algures lá atrás, uma família de
ucranianos às voltas com o sacana do
puto que não se calava, mas cuja voz nunca ouvi, pois os guinchos da senhora
sua mãe abafavam tudo.
Já o espectáculo decorria e eis
que se instalaram três labregos jovens
ao meu lado esquerdo.
A rondar os trinta anitos,
tresandavam a levedura, falavam alto, não diziam nada de jeito. Deviam de ter
vindo da praia, pois ainda traziam areia no pescoço.
A não ser que fosse sarro, mas
fiz questão de manter a dúvida e, por via disso, não me aproximei muito deles.
O que estava ao meu lado pôs por
duas vezes as patas os pés descalços
debaixo dos chanatos do fulano da Coca-Cola e levou logo duas pisadelas naquelas unhas sebentas que o fizeram
saltar do sítio.
Atrás, estava um velhote que
comentou tudo o que rodeou o espectáculo, e até o tingimento capilar da vereadora e a cor da gravata do presidente
da câmara o homem deu a sua opinião.
Nada de especial estes
pormenores até faziam lembrar as romarias
ao Buçaco deram um carácter pitoresco à “festa das associações” que fez de conta foi a comemoração da Quinta-feira
da Ascensão se tratasse, uma requintada
original forma de fazer política populista
através da apresentação de associações atadas
de pés e mãos pela subsidio-dependência o que constitui a mais recente demagogia coqueluche do executivo
municipal.
Temi o pior, temi uma noite
inteira a ter que levar com estes três do lado esquerdo, mas acabei por me
aperceber de que estes espécimes eram cromos
a tempo inteiro espectadores que ali estavam por mero acaso, pois tinham
saído em direcção às tasquinhas da cerveja e já não voltaram.
A festa até esteve gira, mas não
se pode dizer que fosse perfeita; porque perfeita, perfeita, mesmo perfeita, só
se tivessem estado presentes todas, ou pelo menos a maioria das associações do
concelho, incluindo aquelas cujas direcções
que, por um ou outro motivo, não sabem que
basta organizar um torneio de bisca lambida, de jogo da macaca, ou até mesmo de
matraquilhos, para que a autarquia, em demagógico eleitoralismo, ofereça
magnânimemente camisolas ou bonés, cartazes, tarjas, lonas ou outdoors,
programas ou qualquer outro artigo produzido numa qualquer tipografia oficial
do regime que as mantenha umbilicalmente ligadas a um beija-mão subserviente
puderam participar já este ano.
No entanto, nada de preocupante,
para o executivo municipal porque o
mandato ainda nem a meio vai. Para o ano há mais e, se calhar, o espaço já vai
ser pequeno para essa celestial subsidio-dependência
adesão…
Quanto ao resto, ao espectáculo e à actividade do executivo municipal do meu
concelho, é já com água na boca que aguardo pacientemente, por melhores dias pelas surpresas e novidades com
que, daqui em diante, todos seremos brindados.
Espero sinceramente que para o
próximo ano, como sinal de engrandecimento, haja uma corrida de avestruzes
depois de uma largada de pombos. E, para o ano seguinte, uma corrida de
crocodilos. No mínimo…
É o que nos salva a nós, que somos crentes e pessoas com fé…
PS: Como não há duas sem três,
cá estou eu outra vez a pedir desculpa por esta minha opinião voltar a ser
publicada como se de um rascunho se tratasse, mas a verdade é que ainda não
consegui sossegar o espírito.
Depois do melão com que fiquei por não ver o meu Sporting sagrar-se campeão
de uma cansativa viagem de ida e volta a Lisboa no espaço de sete horas, nem
mesmo a oração de sapiência proferida pelo
presidente da câmara e respectivo acólito durante a sessão de encerramento
da “festa das associações” conseguiu levantar-me o moral…
Prometo esforçar-me muito pouco ou mesmo nada para que tal não
volte a acontecer.