As eleições
correram dentro do previsto.
A campanha foi de tricas, utopias e orgias de
promessas, o ataque pessoal, o calcar dos calos do adversário mais directo, a
pouca importância dada à Europa, a pouca importância dada aos políticos, a grande
abstenção nacional (66,1%).
Efeito do pouco crédito dos nossos políticos,
sobretudo do arco da governação. Com a liderança bicéfala do BE que se mostrou
um desastre, ganhou o PCP. Sensação real da noite foi o Partido da Terra que
conseguiu eleger dois deputados, graças ao mediático Marinho Pinto.
Já falavam em
eleições antecipadas, na queda do governo. Seguro, que não ficou mais seguro,
pelo contrário, foi mais cauteloso e não pediu esta tolice. Afinal, nem a
direita coligada teve uma derrota tão pesada quanto o PS uma vitória tão
estrondosa, quando tudo fez para associar as europeias às legislativas. Apesar
da sua vitória inequívoca, não fez grande brilharete e não teve força para
abalar o governo.
O que aconteceu ao governo PSD-CDS é normal, normalíssimo
para quem está num governo que impõe pesados sacrifícios aos cidadãos. Veja-se
a derrota do PS francês, imposta pela Direita. Se os resultados são um cartão
vermelho-alaranjado à governação, também o PS levou um cartão amarelo.
Não pode
assim cantar lá muito de galo. Mais de pinto que perdeu algumas penas. Se a
dispersão de votos prejudicou os socialistas, a abstenção penalizou mais a Direita.
Os que vestem camisola vermelha vão todos, esquecem a praia e lembram o sério
compromisso. Por outro lado, ainda não é tempo de Seguro, que chegou nesta
corrida de triciclo, falar de um novo ciclo.
Com esta vitória pouco ou nada
pode fazer, senão sonhar em ser natural alternativa. Ou ser descartado. Ainda é
cedo para dizer coisas tontas, como esta: “este governo chegou ao fim e o país
está num impasse”. Que não está revela-o a subida na Bolsa no dia seguinte. Todos
têm de reflectir seriamente sobre os resultados, nós e a Europa.
Para que vá às
malvas a austeridade e regresse uma economia forte e dinamizadora da paz
social.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 29 de Maio de 2014