terça-feira, 3 de junho de 2014

TUDO NORMAL

As eleições correram dentro do previsto

A campanha foi de tricas, utopias e orgias de promessas, o ataque pessoal, o calcar dos calos do adversário mais directo, a pouca importância dada à Europa, a pouca importância dada aos políticos, a grande abstenção nacional (66,1%). 

Efeito do pouco crédito dos nossos políticos, sobretudo do arco da governação. Com a liderança bicéfala do BE que se mostrou um desastre, ganhou o PCP. Sensação real da noite foi o Partido da Terra que conseguiu eleger dois deputados, graças ao mediático Marinho Pinto. 

Não foi sequer a vitória do PS, aliás previsível, por uma magra vantagem de 3.7%. Quando nas primeiras sondagens televisivas, tudo apontava para uma diferença de 6 pontos, isso logo levou os socialistas, Manuel Alegra e Assis, a gritarem uma vitória esmagadora, histórica, estrondosa, coisa nunca vista. 

Já falavam em eleições antecipadas, na queda do governo. Seguro, que não ficou mais seguro, pelo contrário, foi mais cauteloso e não pediu esta tolice. Afinal, nem a direita coligada teve uma derrota tão pesada quanto o PS uma vitória tão estrondosa, quando tudo fez para associar as europeias às legislativas. Apesar da sua vitória inequívoca, não fez grande brilharete e não teve força para abalar o governo. 

O que aconteceu ao governo PSD-CDS é normal, normalíssimo para quem está num governo que impõe pesados sacrifícios aos cidadãos. Veja-se a derrota do PS francês, imposta pela Direita. Se os resultados são um cartão vermelho-alaranjado à governação, também o PS levou um cartão amarelo. 

Não pode assim cantar lá muito de galo. Mais de pinto que perdeu algumas penas. Se a dispersão de votos prejudicou os socialistas, a abstenção penalizou mais a Direita. Os que vestem camisola vermelha vão todos, esquecem a praia e lembram o sério compromisso. Por outro lado, ainda não é tempo de Seguro, que chegou nesta corrida de triciclo, falar de um novo ciclo. 

Com esta vitória pouco ou nada pode fazer, senão sonhar em ser natural alternativa. Ou ser descartado. Ainda é cedo para dizer coisas tontas, como esta: “este governo chegou ao fim e o país está num impasse”. Que não está revela-o a subida na Bolsa no dia seguinte. Todos têm de reflectir seriamente sobre os resultados, nós e a Europa. 

Para que vá às malvas a austeridade e regresse uma economia forte e dinamizadora da paz social.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 29 de Maio de 2014