Na primeira metade desta crónica, vou escrever coisas que já escrevi aqui no JN, ou já disse em público noutros órgãos de Comunicação Social.
Com muita pena de que se tenham confirmado! Aconteceram mesmo. Na metade final e complementar, vou escrever coisas que nunca disse nem escrevi, porque pensei que nunca pudessem acontecer! Com muita pena que a realidade me desminta categoricamente.
Aconteceram mesmo!
Desde que tomei conhecimento dos jogadores convocados por Paulo Bento para o Mundial do Brasil que eu reforcei esta falta de crédito que senti "ab initio" pela equipa das quinas. Apesar de Ronaldo.
Desde que assisti incrédulo às rábulas com as lesões e os lesionados no período de preparação para os jogos da fase de grupos, que eu transformei a minha falta de crença numa quase certeza de que a Lei de Murphy é que ia ter mais uma série de grandes exibições nos dias dos jogos de Portugal. Apesar de Ronaldo.
Desde que ouvi o Ronaldo elaborar acerca das percentagens em que estaria o seu estado de forma que eu senti vontade de comunicar com o Murphy, para lhe dizer que num caso destes o flagrante era tão óbvio, que ele devia dispensar-se de atuar. Apesar de Cristiano.
Um jogador que acha que pode alguma vez estar a 110% devia ser impedido de falar nessas coisas, num mês em que milhares de jovens que o idolatram têm pela frente um exame nacional de Matemática. Apesar de nenhum professor ter chamado a atenção para este score.
Depois das humilhações sofridas na derrota com a Alemanha e no empate com os EUA, o mínimo que eu esperava dos nossos homens no Brasil era arrependimento e atitude competitiva para o terceiro jogo desta fase. Aconteceu o contrário, com toda a comitiva a aceitar essa forte probabilidade como certeza inatacável.
Caramba, caros amigos, se todas as fortes probabilidade fossem certezas inabaláveis, o dr. Santana Lopes nunca coroaria a sua longa carreira política na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa! Que 110% dos comentadores e 99,9% dos portugueses pensem isso não é de espantar e é difícil de evitar! Agora que 110% dos jogadores, técnicos e dirigentes da nossa lustrosa comitiva alardeiem isso nas conversas com os jornalistas presentes no oásis de Campinas é que não lembra ao diabo.
Pior ainda do que nos transmitirem essa falta de esperança que contamina é terem começado a contrariar todas as especulações sobre o fraco estado físico geral dos convocados, com provas notáveis de frescura muscular, em corridas desenfreadas na nova modalidade da fuga dos rabos à seringa.
Só no dia de ontem, 110% das declarações que ouvi incluíam esse silvo típico do rabo que foge à seringa. Afinal, o médico é que não sei quê, insinua o treinador! Afinal, o treinador é que não sei quê, deixa cair o diretor das seleções! Afinal, os diretores que escolheram o hotel é que não sei quê, desabafa o chefe deles. Afinal, o presidente que não os obrigou a vir mais cedo para a humidade brasileira é que não sei quê! Afinal, os jogadores do Real Madrid é que tiveram uma época que não sei quê.
Até o Cristiano Ronaldo veio dizer que, afinal, a nossa seleção é que não vale nada, comparada com outras que são muito melhores. Apesar dele... e para nosso pesar!
Se Ronaldo jogar contra o Gana e os outros 10 jogadores o mandarem jogar sozinho, não vou ser eu a dizer que não têm 110% de razão nisso!
Retirada daqui