quinta-feira, 29 de maio de 2014

UM PARTIDO FEITO PELOS JORNAIS

As coisas já andavam feias para os lados do Bloco (exceção honrosa feita à imagem da cabeça de lista e da copresidente), mas agora com os resultados das eleições europeias ficou a louça toda partida! 

Não vejo que exista alguém capaz de colar os cacos, mesmo quando há uma liderança que vale por dois, literalmente.

Mesmo numas eleições a que os portugueses não ligaram nenhuma (as minhas previsões de desinteresse foram até suplantadas, se à abstenção juntarmos os votos brancos e os votos nulos), apesar de tudo é possível retirar várias ilações. Deste farto leque de opções escolhi para o texto de hoje a morte anunciada do Bloco de Esquerda!

A ridícula votação obtida pela lista encabeçada por Marisa Matias prova que também em política não há bela sem senão! Iludindo as aparências, esta bela estória de um punhado de pseudointelectuais de esquerda que sonharam que iam ser alguém na política portuguesa, sendo contra tudo e contra todos e alicerçando a base das suas propostas políticas em medidas que nunca se deram ao trabalho de ver se podiam ser exequíveis, acaba de falecer. Representarem hoje a vontade de 1% dos eleitores portugueses diz quase tudo sobre o estado a que chegou este grupo de amigos.

Quando era mais novo e o então trissemanário "A Bola" pontificava quase sozinho no panorama da imprensa desportiva nacional, era costume dizer-se que havia jogadores que eram feitos pela "Bola". No sentido de que não tendo grandes prestações no campo, estes jogadores tinham caído no goto de algum jornalista influente daquele jornal e por via disso eram glorificados e granjeavam um destaque semanal que em muito ultrapassava o que o seu valor tornaria razoável. É a tal ideia de que mais vale cair em graça do que ser engraçado! Claro que estes jogadores, feitos desta maneira, eram invariavelmente do Benfica, mas nem sequer é isso que interessa agora para o caso.

Recordo estes tempos porque me parece que com o BE a história foi igual ou, pelo menos, muito semelhante. Desde a sua génese, quando ainda nem sequer se tinham sujeitado ao primeiro escrutínio popular, que o Bloco de Esquerda em geral e Francisco Louçã em particular gozaram daquilo a que se convencionou chamar "boa imprensa". Devo esclarecer que para a crónica de hoje, quando refiro jornais ou imprensa por conveniência do texto, estou a querer referir-me a todos os órgãos nacionais de Comunicação Social, a começar pelas televisões, mormente os canais noticiosos. Exemplo notável do que escrevo é o novel Partido Livre de Rui Tavares, que nem levado ao colo pela Comunicação Social (nem estribado no apoio público do "Gato" Ricardo) logrou atingir sequer os votos de 0,1 % do universo eleitoral!

Falecido o Bloco e morto à nascença a borbulha que dele emergiu para estas eleições, não deixa de ser caricato perceber que morreram às mãos do PCP, que tanto quiseram substituir e de um fenómeno chamado Marinho e Pinto. O resultado eleitoral (para muitos surpreendente) do ex-bastonário da Ordem dos Advogados tem a graça suprema de ter sido obtido à custa de um estilo, de um discurso e de uma praxis política que em muito faz lembrar a cartilha habitual dos bloquistas. A diferença é que os portugueses consideraram Marinho e Pinto muito mais credível que as mulheres e os homens do Bloco de Esquerda.

Especialmente isto é que é como quem os mata...

Retirada daqui