Marinho e Pinto, como fenómeno eleitoral, é um produto da comunicação social. Boa parte da sua vida ativa foi feita como jornalista. Uma escola. Os anos empurraram-no para a advocacia. Uma mudança.
Quando o apresentador Carlos Cruz e o político Paulo Pedroso foram presos no âmbito do processo Casa Pia, Marinho e Pinto, comunicador capaz e professor em jornalismo judiciário, passou a ter tempo de antena permanente nos canais televisivos de informação, ávidos de conteúdo gratuito. Uma oportunidade.
Foi atacado: demagogo terá sido o mais simpático dos insultos, amigo dos pedófilos foi certamente o mais estúpido.
Para desespero dos juízes, do Ministério Público e dos grandes escritórios de advogados, que o combateram com todas as armas, Marinho e Pinto marcou a sua classe profissional e foi eleito o primeiro bastonário com direito a salário, equivalente ao de procurador-geral da República: "Os advogados, meu Deus, os letrados advogados elegeram o populista de Coimbra!" indignaram-se fatos e gravatas, sem rosto, cosidos no Rosa & Teixeira. Era um sinal.
Passar a frequentar as passadeiras vermelhas do protocolo do Estado não lhe mudou a atitude: da bordoada na Justiça passou à canelada nos políticos e jornalistas do regime. Até a gelada abertura do ano judicial aqueceu, enervada com os discursos da figura que não havia maneira de pôr fora da sala. Passou a ser apontado como marioneta de José Sócrates e recebeu vivas dos socialistas quando foi ao Jornal Nacional insultar Manuela Moura Guedes. Ficou incólume.
Marinho e Pinto, aos 63 anos, alcançou a reforma com o lugar de eurodeputado. Foi a votação para este cargo mais personalizada de sempre. Isto revela uma mudança de fundo no País? Não. Talvez dê azo a um golpe no PS, fracassado numa pobre vitória, nada mais.
Esta eleição confirma apenas que 235 mil pessoas não encontraram sítio melhor para votar e que gostam deste homem da televisão "capaz de dizer umas verdades".
Ninguém espera nada dele, apenas que lance umas farpas, de vez em quando, aos frequentadores dos areópagos onde, resignadamente, o deixam entrar. Serviu a quem serviu e acabou, esgotado pelos limites da sua generosidade e do seu egocentrismo. Teve mérito mas é inconsequente. Chegou ao fim.
Pedro Tadeu, aqui