O TEMPO DAS VACAS MAGRAS
Os reis que mandavam no Egipto de antigamente eram os faraós. Um deles, uma vez, teve um sonho.
No princípio do sonho, o faraó viu-se junto à margem de um rio. Do rio saíram sete vacas bonitas e gordas, que se puseram a pastar na erva. Passado algum tempo, outras sete vacas saíram do rio, mas estas eram enfezadas e feias.
Depois - coisa estranha! - as sete vacas magras devoraram as sete vacas gordas. Só em sonhos isto pode acontecer.
Foi este o pensamento do faraó, ao acordar. Sentia-se incomodado com o sonho que tivera e todo o dia empreendeu nele, a ponto de o contar aos seu séquito, com todos os pormenores, como se ainda o estivesse a sonhar.
- Há-de ser um sinal, um aviso - dizia, constantemente, o faraó. - Mas que sinal, que aviso?
Alguém se lembrou de um escravo, chamado José, que tinha fama de interpretar os sonhos mais escabrosos. Naquele tempo, acreditava-se que os sonhos eram recomendações divinas para guiar a conduta dos homens.
Chamado à corte, José ouviu do faraó o estranho sonho. Os cortesãos já quase o sabiam de cor.
José ouviu e ficou, depois, em meditações, como se estivesse a rezar. À sua volta, aumentava a impaciência.
Até que José anunciou:
- As sete vacas gordas vão ser sete anos de abundância. A seguir virão sete anos de fome, como sete vacas magras. A riqueza dos sete primeiros anos será consumida pelos sete anos seguintes, em que o Egipto, devastado, se for mal gerido, conhecerá a miséria.
O faraó concordou. Algo lhe dizia que as palavras do escravo eram portadoras da verdade.
- Que devo, então, fazer? - perguntou o faraó.
José respondeu, como se fosse um profeta:
- Deveis mandar acumular toda a alimentação excedente desses anos férteis, que se aproximam. O trigo armazenado ficará de reserva, como recurso para minorar os sete anos de fome.
- Visto que o teu Deus te revelou tudo isso, não há ninguém, no Egipto, mais sábio do que tu - proclamou o faraó. - Tu mesmo serás o chefe da minha casa. Todo o meu povo será governado por ti, como primeiro representante do meu mando.
Então, o faraó tirou da sua mão direita um anel e entregou-o a José.
Tudo aconteceu como ele previra. Quando chegaram os anos de seca, a fome tomou conta dos países vizinhos, mas no Egipto não faltou o pão. Por isso o povo glorificou o nome do antigo escravo que ensinara ao faraó as regras do bom governo e os ditames da prudência.
Retirada daqui