segunda-feira, 7 de abril de 2014

ESQUEÇAMOS O CHERNE

Há quem olhe para a profunda crise que a Europa atravessa e a associe à falta de grandes líderes

Não será, sequer, necessário lembrar outros momentos de convulsão para perceber que a tese é recorrente. Os homens providenciais são sempre os de antigamente, os do presente nunca têm a grandeza dos do passado.

Não faço parte do grupo que pensa que a dita crise se deve à dimensão - ou falta - ética, intelectual, moral ou o que quer que se queira enfiar nesse conceito, dos atuais líderes europeus. Foram feitas opções erradas, e não são, longe disso, de agora. A deterioração das instituições e do seu funcionamento não é um processo automático e as consequências das políticas muito menos.

Pode-se dizer, e com propriedade, que essas consequências estão à vista, são claramente negativas e será tempo de arrepiar caminho. Mas até isto pouco terá que ver com a questão da tal dimensão dos protagonistas. Serão, repito, opções políticas, e o que se pode dizer é que há líderes que não vêem que essas prejudicam as comunidades que representam e outros, aproveitando essa falta de visão, que conseguem beneficiar as suas. 

Numa expressão: melhores e piores políticos. Sendo mais concreto e dando exemplos, a senhora Merkel defende de forma exemplar o povo alemão, Passos Coelho também. Não importa agora analisar se esse tipo de raciocínio mostra a falta de pensamento da Europa como comunidade e o que isso significa para o projeto europeu. São apenas factos indesmentíveis e fáceis de provar .

Porém, a inopinada entrevista de Durão Barroso ao Expresso da semana passada parece destinada a fazer pensar três vezes as pessoas que se recusam a reduzir os problemas que vivemos à fraqueza dos atuais líderes. Olha-se para aquilo - não consigo encontrar outro termo - e a pergunta surge imediatamente: tem sido este homem que tem estado à frente da Comissão Europeia na altura da sua mais grave crise? Não chegava ter cuspido no mandato que os portugueses lhe deram num momento muito importante para Portugal, ter assistido impávido e sereno ao esvaziamento dos seus poderes na Europa, ser suficiente ter-se tornado um capacho da chanceler alemã e um apoiante feroz das políticas que estão a ajudar a destruir o seu próprio país, vem, ainda em pleno exercício de funções, interferir no processo político português, caluniar pessoas e tentar umas manobras politiqueiras incompreensíveis.

A acusação que fez a Cavaco Silva, de ser, no fundo, um Presidente de facção é, porventura, justa, mas inconcebível. O presidente da Comissão não pode, em caso algum, insinuar o que insinuou sobre um titular dum órgão de soberania dum país da União. Mas foi o que Barroso fez, quando afirmou que seria aconselhável um candidato comum aos três principais partidos para mais bem gerar consensos. Se o que temos não os conseguiu gerar é porque não conseguiu subir acima das querelas partidárias e não soube desprender-se do seu partido. Talvez, do alto da sua soberba, Barroso pense que seria ele o candidato do consenso, como me sugeria um importante político português tentando interpretar as palavras do ex-primeiro-ministro. A inconsciência e a vaidade podem, de facto, cegar.

Depois, a vontade de falar do caso BPN tentando atirar ao polícia (que provavelmente não cumpriu de forma razoável a sua função) em vez de ao ladrão. A que propósito isto veio nesta altura? Teve de esperar que Constâncio fosse para uma instituição europeia para dizer o que disse? Talvez para ajudar a campanha para as europeias da coligação e o suposto papel que um candidato do CDS teve na comissão parlamentar de inquérito ao BPN? Talvez para sacudir água do seu próprio capote? Mas... que diabo leva um presidente da Comissão Europeia a meter-se nestas questões internas?

E que dizer de alguém que está no mais alto cargo europeu quando acusa dois seus ex-ministros e personagens de relevo na vida portuguesa de atuarem, pública e politicamente, não por convicção, não por preocupação pelo bem comum, mas por motivos meramente pessoais? E por dinheiro! Ferreira Leite e Bagão Félix teriam subscrito um documento apenas porque, coitados, teriam visto a carteira afetada pelas políticas governamentais. Há quem só consiga ver nos outros o que vê em si.

Mantenho a minha convicção de que o grande problema europeu não é uma especial falta de pessoas com capacidade de liderança ou competência. Ou, pelo menos, não mais do que em qualquer outro período. Mas que a Europa e Portugal tiveram um extraordinário azar em ter Durão Barroso como presidente da Comissão Europeia, nesta fase da nossa história, ficou bem patente na entrevista ao Expresso. Uma entrevista grande, um entrevistado pequeno.

Pedro Marques Lopes, aqui