O cardeal Richelieu, criador do absolutismo real, sabia que a política pode ser fria como o gelo. Dizia ele: "Perseguir lentamente a execução de um desígnio e divulgá-lo é o mesmo que falar de uma coisa para não a fazer".
Poucos duvidam que Pedro Passos Coelho persegue um desígnio qualquer e é por isso que os seus fiéis aliados (como foi Miguel Relvas) podem ser trucidados sem lágrimas. É por isso que, passando por liberal, Passos Coelho reforça o poder dos seus pajens no Estado.
Cria o seu absolutismo. Sem dar o flanco, convoca um jovem exaltado da JSD para conduzir uma acção de baixa política, mostrando-se depois ignorante sobre o assunto.
Fala, cortando cerce as hipóteses de Marcelo Rebelo de Sousa para as presidenciais, dizendo depois, com ar espantado, que a sua declaração era genérica. Sobre os concursos públicos "feitos à medida" tudo desconhece, claro.
Passos Coelho quer convencer-se a si próprio, porque não consegue convencer mais ninguém, que não está por detrás destas decisões. Compreende-se: o primeiro-ministro perdeu um dos cinco sentidos, a audição. É por isso que também deve ignorar que a maioria PSD/CDS teve agora a peregrina ideia de propor que o trabalho possa ser pago com tempo de descanso. Vá lá que um dos bons rapazes de Passos não inovou com a possibilidade de se pagar com oxigénio, sorteios de carros ou horas de sol.
Passos, como bom liberal, também deve desconhecer esta ideia que vai contra todos os princípios de Adam Smith. A desvalorização do trabalho é uma realidade nesta sociedade de mercado em que se sobrevive. Julgava-se é que o trabalho não fosse motivo de achincalhamento. Mas já nada espanta neste Governo sem sentimentos.
Fernando Sobral, aqui