terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ERA UMA VEZ...


O PAPAGAIO
Do Brasil regressara à sua terra um pobre emigrante. Como única riqueza, trazia um papagaio

Pacientemente, o homem tinha ensinado o papagaio a dizer: "Não há dúvida". 

Um dia, o homem resolveu vender o papagaio. Realizava-se, nesse dia, uma grande feira, e o nosso homem para lá foi, lançando o seu pregão: 
- Quem quer comprar um papagaio? Um papagaio muito esperto por cinco mil euros... 

Mas ninguém estava interessado. 

Então o homem mudou de pregão. E pôs-se a apregoar assim: 
- Quem quer comprar este ser inteligente, que além do mais também é papagaio. É um sábio com penas! Ele sabe tudo e custa pouco. Por quinze mil euros, leva um sábio para casa, que até distrai e faz vista, porque é tal e qual um papagaio. Quinze mil euros, quem compra? 

Aproximou-se um lavrador, que tinha menos de inteligência que de riqueza. Como queria dar-se ares de espertalhão, perguntou ao papagaio: 
- Ó loiro, tu vales quinze mil euros? 
- Não há dúvida - gritou o papagaio. 
- E és realmente um sábio disfarçado de papagaio? Um grande sábio? - perguntou o lavrador. 
- Não há dúvida - respondeu o papagaio. 

O lavrador ficou espantado e comprou logo o papagaio, que levou para casa. 

Mas o papagaio nunca mais voltou a falar. 

Um dia, o lavrador, que já se arrependera de ter caído na esparrela, lamentou-se, junto da gaiola do passaroco: 
- Que burro que eu fui em ter dado tanto dinheiro por um papagaio! 
- Não há dúvida - gritou o papagaio. - Não há dúvida!


António Torrado e Cristina Malaquias, aqui