terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A DONZELA DECADENTE

A Ucrânia, pelo menos por enquanto, recusou a Europa e optou pela Rússia. Entre dois amores, desejada por ambos, pressionada pelos dois, escolheu.

Na cimeira de Vilnius, onde se procurava uma parceria com várias das ex-Repúblicas soviéticas, o "não" ucraniano é mais relevante do que os que disseram sim. Porque a Ucrânia é muito grande, e porque desde a independência hesita entre um destino "europeu" ou "russo". 

É verdade que a Ucrânia é mais importante para a Rússia do que para a União Europeia. Seja por razões económicas, geopolíticas ou simbólicas, a Ucrânia foi (e ainda é, de alguma forma) a jóia da coroa soviética e hoje Putiana.

Assim, perante a hipótese de a perder, a Rússia não hesitou: tomou medidas drásticas, mostrou ao objecto do seu desejo que não estava a brincar. Em Agosto, a Rússia suspendeu todas (sim, todas) as importações da Ucrânia. Para se ter apenas uma ideia, a Ucrânia exporta 75% da maquinaria que produz para a Rússia. E, até ao fim de 2013, o custo desta medida de retaliação "preventiva" ronda os dois mil milhões de euros.

Ianukovitch, o Presidente ucraniano (que já é pró-russo) ainda tentou que a UE o compensasse. Nada feito, disseram-lhe. Pois então, respondeu, será a Rússia.

Tivesse este episódio ocorrido há alguns anos, e talvez o resultado deste romance fosse diferente. A prosperidade que a "Europa" exibia, a sua confiança, o Estado social, eram um verdadeiro íman para muitos, incluindo a Turquia. Mas a Europa está em crise, e continua e crise, e vai continuar em crise. A bela donzela europeia está envelhecida, egoísta, dividida, incapaz de resolver os seus problemas e, digamos as coisas como elas são, em declínio.

Muitos dos que olham de fora para a União e veem a Grécia ou Portugal não pensam nos camiões de dinheiro que ali e aqui foram injectados. Não, congeminam na triste sorte de quem agora estiver em dificuldades na União: porque os "irmãos" não estão para caridades e espetam o prego bem fundo.

É, habituemo-nos: a Europa é agora muito menos atraente e sexy do que há alguns anos atrás, não só para os que nela vivem ou sobrevivem como, em não menor medida - antes pelo contrário -, para aqueles que estão alhures. Paz, liberdade, democracia, união, solidariedade, mercado, direitos fundamentais: estes são alguns dos pilares com que a Europa vendeu (e muito bem) a sua imagem perante os outros. Estes foram alguns dos elementos de que nos orgulhámos. Estes são alguns dos elementos que nestes dias sombrios certos poderes europeus rejeitam de forma categórica, por alegadamente estarem ultrapassados e não terem futuro.

Tudo isto se paga, pelo menos a prazo. Como mostra uma sondagem do Pew Research Global Attitudes Project, entre 2007 e 2013 a opinião dos europeus sobre a UE caiu a pique. Em vários dos países (Grécia, República Checa, França, Reino Unido), são bem mais os que têm uma opinião negativa da UE do que aqueles que lhe são favoráveis. E sabem quantos Turcos têm agora uma opinião favorável da União Europeia? 26%.

Este processo é preocupante. Mas, convenhamos, se já nem nós gostamos de nós, quem vai gostar?

Retirada daqui