terça-feira, 3 de dezembro de 2013

ERA UMA VEZ...

ZÉ DESGRAÇADO
Era uma vez um homem muito pobre. Não tinha nada de seu e vagabundeava, todo esfarrapado e de longas barbas cinzentas, de terra em terra, vivendo de esmolas

Chamavam-lhe Zé Desgraçado e, com o tempo, esse passou a ser o seu verdadeiro nome.


Há também que dizer, à partida, que a história se passa em África. 

Zé Desgraçado ia pelo meio do mato quando encontrou um antílope morto, trespassado por uma azagaia. Pensou: "Escapou-se, escondeu-se e morreu. E o caçador passo a ser eu". 

Todo contente, começou a juntar lenha para fazer uma fogueira onde assar o antílope. 

Nisto, um passarinho poisou-lhe no ombro e disse: 
- Zé Desgraçado, não comas essa carne. Continua em frente, que o melhor está para vir. 
Zé Desgraçado, embora contra-vontade, correspondeu ao conselho do passarinho. 

Seguiu viagem, apertadinho de fome, mas seguiu. 
Mais adiante, encontrou uma gazela, morta, também trespassada por uma azagaia. 

O vagabundo pensou: "Escapou-se, escondeu-se e morreu. E o caçador passo a ser eu". 
Mas, de novo, o passarinho lhe disse: 
- Zé Desgraçado, não comas essa carne. Continua em frente, que o melhor está para vir. 

Muito contrariado, o mendigo avançou pelo meio do mato. Assim, chegou ao deserto. O passarinho, que não o largava, animou-o a continuar a viagem. 

Sob o fogo do sol, cheio de sede e de fome, o Zé Desgraçado arrastou-se pela areia. 

Dunas sobre dunas e mais dunas e dunas? 

Até que chegou a um oásis. Como se estivesse à espera dele, um rancho de criados despojou-o dos farrapos, mergulhou-o numa tina de água perfumada e cobriu-o, depois, de ricas vestes. O vagabundo já não parecia o mesmo, embora continuasse com fome. 

Os mesmos criados conduziram-no a uma grande tenda, onde estava uma bela senhora vestida de penas. Ela falou, a desejar-lhes as boas-vindas, e o Zé Desgraçado reconheceu a voz do pássaro que o conduzira. 

Era viúva e única dona do oásis e da mina de ouro que nele havia. Parece que estava tudo predestinado para que ali se realizasse um casamento, seguido de sumptuosa boda? Ao Zé 

Desgraçado convinha-lhe, tanto mais que continuava cheio de fome. 
- Vais casar-te comigo - disse-lhe a senhora. - Mas imponho-te uma condição: nunca podes olhar para trás. 

O vagabundo estava por tudo. Desde que comesse qualquer coisinha? 
Depois da cerimónia do casamento, estenderam as iguarias, sob a cúpula da tenda. 

Manjares deliciosos. Entre eles, um antílope e uma gazela. 

Zé Desgraçado que ia a provar, de água na boca, um bocadinho de carne tostada, lembrou-se: 
- No caminho para cá, encontrei um antílope e uma gazela, iguais a estes. 

E apontou para trás. E olhou para trás. 

Logo tudo se desvaneceu. Nem que fosse um sonho. 

Zé Desgraçado voltou a encontrar-se no meio do mato, sozinho e cheio de fome.

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui