sábado, 30 de novembro de 2013

RISO CÍNICO DOS BETINHOS DO GOVERNO

Bom para uns, mau para outros, o Governo dispõe de uma característica inquestionável: é constituído esmagadoramente por um grupo de cínicos incorrigíveis, capazes de tirar do sério o mais comum dos mortais.

Passos Coelho é, desde logo, o primeiro a deixar de cabelos em pé qualquer português dotado de bom senso. Tropeçando num discurso muitas vezes a necessitar de tradução, tantos os ziguezagues e as palavras desconjuntadas, o primeiro-ministro é raro dispor de uma palavra de reconhecimento ou de conforto aos portugueses em sofrimento. 

Faz pior: anuncia ou discute pedaços de nova austeridade entre sorrisos e galhofa. As imagens recolhidas nos debates da Assembleia da República são de todo eloquentes: Passos Coelho é vezes sem conta apanhado a esboçar sorrisinhos matreiro-cínicos com Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque ou algum dos outros seus ajudantes de cortes. Lamentável.

Aos membros do Governo não se pedem lágrimas (de crocodilo) sempre e quando anunciam decisões (ainda) mais drásticas para a vida dos portugueses. Exige-se-lhes o que parecem incapazes de seguir: um comportamento e uma face normais - ou carregada - sempre e quando estão a esgrimir argumentos conducentes ao empobrecimento.

Uma parte da impopularidade do Governo passa pelos semblantes de indiferença ou mesmo de sorrisinho à desgraça alheia e, igualmente, pela frivolidade discursiva, tratando os cidadãos como se fossem atrasados mentais. E raro é o dia sem registo de novas afrontas de membros do Governo.

Aguiar-Branco, uma das referências betinhas do Governo, é o mais recente colecionador de desastres comunicacionais e insensibilidade manifestada perante o sofrimento do povo. 

E merece estar, como está, debaixo de fortíssima contestação.

Visionário dos riscos ditatoriais se a Constituição não for reformatada (pois...), o ministro da Defesa bem pode dar todas as piruetas do Mundo que é incapaz de fintar a polémica do momento sob a sua batuta: os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).

Mesmo dando-se de barato os critérios de negociação que conduziram à concessão dos ENVC à Martifer, Aguiar-Branco assumiu em público posições impensáveis. Uma bolsa de 30 milhões de euros vai servir para colocar no olho da rua 609 trabalhadores dos estaleiros. E então? Aguiar-Branco não foi capaz de uma palavra de conforto a operários ou famílias. 

Feito bloco de gelo, como se alguém tivesse de agradecer a indemnização, destaca a "garantia de direitos"! E vai mais longe: tratando-se da "melhor solução", passa um certificado de parvo a quem o ouve e releva que o novo projeto "irá criar 400 postos de trabalho". Assim mesmo. O ministro só pode ser mau de matemática. Do erário público saem 30 milhões para enviar 618 para o desemprego, há o cenário - só cenário - de trabalho para 400 e Aguiar-Branco arvora-se em criador de emprego!

Não há pachorra, de facto.

À suspeita de incompetência este Governo junta uma certeza: a maioria dos seus membros são socialmente insensíveis. Ou riem ou dizem disparates - ou assumem ambas as posições. 

O Governo justifica, enfim, a impopularidade de que goza.

Retirada daqui