sábado, 19 de outubro de 2013

CHUVA DE MAIO

MÁS (CARAS) A CAIR
E pensavas tu que não se sabia, que ninguém percebia.

Mas o destino é mesmo assim, abre uma clareira no céu no meio de um dia de inverno.

Eu comecei a pressentir antes de todos – primeiro uma estranheza na conversa; umas maneiras mais delicadas à mesa…
Mas depois, atrasos para o jantar, roupa nova no armário, vontade de viajar…
Já havia comentários na rua que andavas com uma lá do trabalho, menos quando eu passava – todos olhavam mas ninguém falava.
E eu passei a andar maldisposta, irritada, com dores de cabeça e sem vontade de cuidar da casa.
- O que se passa?
- Nada! – respondia eu invariavelmente.
Assim andámos 2 meses, até que…
- Olha, queria levar-te a Veneza.
- Hã?
- Andei a fazer horas na empresa. Até já sei umas palavritas… Não te preocupes que a Lurdes tem-me ensinado a comer com os talheres todos. Sabes, queria que fosse especial… E vou estar catita, que tenho roupa nova escolhida. Não dizes nada?
Eu não disse. Nem uma palavrinha. Estava de queixo caído. Estupefacta a olhar para um homem que 23 anos depois se reinventa para agradar à mulher de todos os dias.
Agora, quando passo na rua, carteira italiana ao ombro, vejo as pessoas de uma outra maneira. Acho-as mais feias, menos vizinhas, … Agora que as conheço, preferia não ter de as ver a elas e às manhas delas.