sexta-feira, 4 de outubro de 2013

AUTÁRQUICAS NÃO RECONHECEM ALGUM SUPER HOMEM DA POLÍTICA EM OLIVEIRA DO BAIRRO

Tal como a nível nacional, o último acto eleitoral também teve no município de Oliveira do Bairro um vencedor destacado: a abstenção.

Na verdade, a fazer fé nos resultados divulgados pela Comissão Nacional de Eleições dos 21025 eleitores inscritos, votaram 10891 para a câmara municipal (dos quais 452 brancos e 323 nulos), 10890 para a assembleia municipal (dos quais 521 brancos e 330 nulos), e 10863 para as assembleias de freguesia municipal (dos quais 411 brancos e 352 nulos).


E se já é estranho que nenhuma explicação exista para o misterioso 'desaparecimento' de um (1) voto para a assembleia municipal, muito mais estranho é que nenhuma 'justificação' exista para a inexistência de vinte e oito (28!!!) votos para as assembleias de freguesia; ou então, vendo 'as coisas' por outro prisma, que explicação pode haver para o surgimento, sabe-se lá como e de onde, de mais vinte e sete (27!!!) votos para a assembleia municipal, e mais vinte e oito (28!!!) para a câmara municipal?!? 

Independentemente disto, o que por si só não é de somenos importância, se se juntar ao valor da abstenção eleitoral (cerca de 48% dos eleitores inscritos) os valores dos votos em branco (cerca de 4,50%) e dos votos nulos (cerca de 3,00%), que em conjunto ultrapassam os 55%, a única leitura possível é a da existência de um claro sinal de afastamento dos eleitores oliveirenses das forças políticas (candidaturas e candidatos) que se submeteram a sufrágio.

E nem se diga que a razão deste divórcio teve a ver com a existência de condições atmosféricas convidativas para um passeio ou um dia de praia, porque o chuvisco que se fez sentir, sendo convidativo para ficar em casa, não aliciou ao cumprimento do dever cívico.

Analisando a situação sob o prisma concelhio, o que se verifica é que o executivo que no próximo quadriénio vai gerir os destinos do concelho, foi sufragado por apenas 4799 (22,82%!!!) dos 21025 eleitores inscritos, o que por si só significa uma victória do ‘eleitorado abstencionista’: obviamente, mau demais para ser verdade!

Do ponto de vista do resultado, entendeu o ‘eleitorado eleitor’ retirar o PS da cena política concelhia, entregando os destinos das autarquias (câmara e assembleia municipais, e assembleias de freguesia) a apenas duas candidaturas: PPD-PSD e CDS-PP.

Sobre o PPD-PSD, o que há a dizer é que embora mantenha o poder em metade das freguesias (Oliveira do Bairro e Palhaça), e maiorias na câmara municipal (absoluta) e na assembleia municipal (relativa), registou uma clara, e eventualmente preocupante perda de votos, ou senão mesmo de eleitorado.

Quanto ao CDS-PP, não só continua a manter o poder em metade das freguesias (uma destas resultante da agregação das três que anteriormente já se encontravam sob o seu domínio – Bustos, Mamarrosa e Troviscal), como recuperou o poder daquela que é a maior do concelho (Oiã), e registou um aumento de representatividade quer na câmara municipal (3 vereadores em lugar dos 2 anteriores) e na assembleia municipal (9 eleitos em lugar dos 7 do mandato anterior).

Relativamente ao PS, foi o grande perdedor do acto eleitoral, tendo perdido representatividade nas freguesias, na câmara (perdeu o único vereador que tinha) e na assembleia municipal (desceu de 3 para 2 membros eleitos).

Por sua vez, a CDU fez uma corrida à parte, comparecendo no acto eleitoral para recolher os votos do seu eleitorado tão fiel quão residual: terá sido, por isso mesmo, a única candidatura que não sofreu dissabores com os resultados eleitorais verificados.

Face aos resultados apurados, uma dúvida se suscita: saber se o ‘eleitorado eleitor’ decidiu por acção ou seja em função do desempenho esperado para o próximo mandato, ou por reacção ou seja em função do desempenho político do mandato cessante.

Analisados os contextos, e porque é sabido que num executivo onde haja maioria absoluta, poder e oposição defrontam-se sempre com armas desiguais, sendo sempre mais difícil estar na oposição quando, do lado do poder, há quem não perceba que em democracia, o poder não é mais importante do que a oposição, pois todos têm um papel essencial a desempenhar em prol da administração, local ou não, e que a oposição é absolutamente necessária à administração desse poder, pois é a oposição que fiscaliza, e sem fiscalização não há democracia nem estado de direito, há três factos que, em relação ao mandato cessante não podem ser ignorados: 
1 - o autoritarismo saloio e prepotente do poder instalado que culminou com o ‘assassinato de carácter’ dos vereadores que integraram a equipa do PPD-PSD, substituídos por uma outra equipa estranha mas ostensivamente afastada da campanha eleitoral; 
2 - a oposição crítica e musculada mas sempre fundamentada que foi persistentemente mantida por um dos vereadores eleitos pelo CDS-PP; 
3 - a aceitação resignada e conformista que, em cada reunião, foi sendo manifestada pelo único vereador do PS.

Em relação à renovação do poder instalado decidida pelo ‘eleitorado eleitor’ pouco há a dizer: a par da insatisfação pelo seu desempenho sinalizada com uma acentuada diminuição de votos a favor do PPD-PSD, foi igualmente dada a indicação de que neste momento a oposição ainda não é alternativa para exercer o poder, e que ainda não chegou ao fim o caminho a percorrer para alcançar esse objectivo, não só através da conquista de ‘eleitorado abstencionista’, mas principalmente do ‘eleitorado eleitor’ que através de votos nulos ou brancos expressaram a sua oposição aos programas submetidos a sufrágio.

No fundo, uma forma diferente de actuação por parte de todos quantos tenham um coração que pulse pelas gentes da sua terra, que tenham nos sucessos desta a sua paixão, nos seus desígnios o seu trabalho, e nas injustiças que a vergastam a sua coragem - é que, sendo todos feitos do mesmo barro, nem todos têm os mesmos moldes.


É por isso, que só há uma forma de estar na oposição: dizer mesmo, quando necessário, ‘coisas que incomodem’, mas obedecendo sempre ao ideal da defesa intransigente dos interesses dos fregueses e dos munícipes, muitas vezes em absoluta fractura com silêncios unanimistas que, alheios à realidade, vão cumprindo o seu papel de veneradores de conformismo náufragos, com perda de dignidade, de prestígio e de respeito, e envoltos em pomposas auras que, assentes em discursos de circunstância que tresandam a decadência, apenas proclamam grandezas amorfas e inócuas.

Se assim for, não é preciso que aconteça uma qualquer hecatombe para se vencerem demagogias ou se evidenciarem mentiras... Porque para que isso aconteça, é preciso muito pouco..., muito pouco mesmo; basta apenas ter-se a razão ao lado... e cada vez mais munícipes, sempre e cada vez mais cientes do que verdadeiramente se vai passando... implacavelmente... ainda que silenciosamente.

Quanto às candidaturas que obtiveram escolhas eleitorais importa dizer o seguinte: em relação ao PS, avançou para estas eleições cometendo o capital pecado de pretender derrubar a oposição concorrente em lugar de visar o desmoronamento do poder instalado ou seja, não se apresentou como alternativa ao PPD-PSD mas sim ao CDS-PP, uma atitude claramente demonstrativa de quem não tem qualquer interesse em governar.

Uma conduta que, a manter-se na assembleia municipal, nenhum augúrio de incómodo traz para o executivo municipal, apesar de neste órgão deliberativo o PPD-PSD, com 10 eleitos (a que acrescem 2 presidentes de junta) estar em minoria relativa face à oposição, onde o CDS-PP tem 9 eleitos (a que acrescem 2 presidentes de junta) e o PS tem 2 eleitos.

Quanto ao CDS-PP recuperou o 2º lugar na preferência do ‘eleitorado eleitor’, mantendo-se no executivo municipal isoladamente na oposição, onde passa a ter três elementos nas reuniões para apreciar, discutir e votar a actividade municipal, lado a lado com os quatro eleitos pelo PPD-PSD, em clara viagem descendente.

Em termos de balanço, apenas duas ideias: não foi por muito que o PPD-PSD escapou à derrota e o CDS-PP só pode queixar-se de si próprio por não ter conseguido fazer o pouco que lhe faltou para as ambicionadas victórias, quer para a assembleia de freguesia de Oliveira do Bairro quer para a câmara municipal.

Porque, em bom rigor, o que destas eleições emerge é que havendo vencidos, não houve um claro vencedor que possa, hoje, ser considerado um super homem da política: é certo que para a câmara municipal a candidatura ganhadora obteve mais 731 votos do que a que lhe seguiu, e por isso mesmo irá continuar a governar os destinos do concelho; mas este não deixa de ser um resultado tristonho e sem brilho, onde a aguardada exultação pela (muita, é verdade, mas pelos vistos não idolatrada) obra feita e o endeusamento de uma qualquer personalidade não tiveram, afinal, o tão esperado reconhecimento do ‘eleitorado eleitor’.

Reflexão e autocrítica são pois as duas palavras que, nos próximos quatro anos ficará a saber-se se fazem parte do léxico dos contendores partidários concelhios, sob pena de também aqui, em Oliveira do Bairro, poderem ser surpreendidos, e quiçá ultrapassados, por um qualquer 'movimento político' que entretanto se organize e dê vida a uma alternativa que cada vez começa a ganhar mais espaço por este país fora.

No fundo, o que há a concluir é que decorridos oito anos, Mário João Oliveira ainda não conseguiu o reconhecimento do estilo, das ideias e dos princípios que, no exercício simultâneo dos cargos público (presidente da câmara) e privado (administrador de empresas de um dos maiores grupos económicos do concelho) vai aplicando, num município cujo eleitorado não só dá mostras de continuar a estranhar a mudança, mas principalmente demora tempo demais a entranhá-la.

Ao cabo e ao resto, à proactividade do presidente da câmara, o ‘eleitorado eleitor’ responde com uma reactividade muito tardia, mas que já augura uma inversão de ciclo num futuro talvez mais próximo do que ainda há poucos anos seria inimaginável.