Tal como a
nível nacional, o último acto eleitoral também teve no município de Oliveira do Bairro um
vencedor destacado: a abstenção.
Na verdade, a fazer fé nos resultados divulgados pela Comissão Nacional de Eleições dos 21025 eleitores inscritos, votaram 10891 para a câmara municipal (dos quais 452 brancos e 323 nulos), 10890 para a assembleia municipal (dos quais 521 brancos e 330 nulos), e 10863 para as assembleias de freguesia municipal (dos quais 411 brancos e 352 nulos).
Na verdade, a fazer fé nos resultados divulgados pela Comissão Nacional de Eleições dos 21025 eleitores inscritos, votaram 10891 para a câmara municipal (dos quais 452 brancos e 323 nulos), 10890 para a assembleia municipal (dos quais 521 brancos e 330 nulos), e 10863 para as assembleias de freguesia municipal (dos quais 411 brancos e 352 nulos).
E se já é estranho que nenhuma explicação exista para o misterioso 'desaparecimento' de um (1) voto para a assembleia municipal, muito mais estranho é que nenhuma 'justificação' exista para a inexistência de vinte e oito (28!!!) votos para as assembleias de freguesia; ou então, vendo 'as coisas' por outro prisma, que explicação pode haver para o surgimento, sabe-se lá como e de onde, de mais vinte e sete (27!!!) votos para a assembleia municipal, e mais vinte e oito (28!!!) para a câmara municipal?!?
Independentemente disto, o que por si só não é de somenos importância, se se juntar ao valor da
abstenção eleitoral (cerca de 48% dos eleitores inscritos) os valores dos votos
em branco (cerca de 4,50%) e dos votos nulos (cerca de 3,00%), que em conjunto
ultrapassam os 55%, a única leitura possível é a da existência de um claro sinal
de afastamento dos eleitores oliveirenses das forças políticas (candidaturas e
candidatos) que se submeteram a sufrágio.
E nem se diga que a razão deste divórcio teve a
ver com a existência de condições atmosféricas convidativas para um passeio ou um dia de praia,
porque o chuvisco que se fez sentir, sendo convidativo para ficar em casa, não
aliciou ao cumprimento do dever cívico.
Analisando a situação sob o prisma concelhio, o
que se verifica é que o executivo que no próximo quadriénio vai gerir os
destinos do concelho, foi sufragado por apenas 4799 (22,82%!!!) dos 21025
eleitores inscritos, o que por si só significa uma victória do ‘eleitorado
abstencionista’: obviamente, mau demais para ser verdade!
Do ponto de vista do resultado, entendeu o
‘eleitorado eleitor’ retirar o PS da cena política concelhia, entregando os
destinos das autarquias (câmara e assembleia municipais, e assembleias de
freguesia) a apenas duas candidaturas: PPD-PSD e CDS-PP.
Sobre o PPD-PSD, o que há a dizer é que embora
mantenha o poder em metade das freguesias (Oliveira do Bairro e Palhaça), e
maiorias na câmara municipal (absoluta) e na assembleia municipal (relativa),
registou uma clara, e eventualmente preocupante perda de votos, ou senão mesmo
de eleitorado.
Quanto ao CDS-PP, não só continua a manter o
poder em metade das freguesias (uma destas resultante da agregação das três que
anteriormente já se encontravam sob o seu domínio – Bustos, Mamarrosa e
Troviscal), como recuperou o poder daquela que é a maior do concelho (Oiã), e
registou um aumento de representatividade quer na câmara municipal (3
vereadores em lugar dos 2 anteriores) e na assembleia municipal (9 eleitos em
lugar dos 7 do mandato anterior).
Relativamente ao PS, foi o grande perdedor do
acto eleitoral, tendo perdido representatividade nas freguesias, na câmara (perdeu
o único vereador que tinha) e na assembleia municipal (desceu de 3 para 2
membros eleitos).
Por sua vez, a CDU fez uma corrida à parte,
comparecendo no acto eleitoral para recolher os votos do seu eleitorado tão fiel
quão residual: terá sido, por isso mesmo, a única candidatura que não sofreu
dissabores com os resultados eleitorais verificados.
Analisados os contextos, e porque é sabido que num executivo onde
haja maioria absoluta, poder e oposição defrontam-se sempre com armas
desiguais, sendo sempre mais difícil estar na oposição quando, do lado do
poder, há quem não perceba que em democracia, o poder não é mais importante do
que a oposição, pois todos têm um papel essencial a desempenhar em prol da
administração, local ou não, e que a oposição é absolutamente necessária à
administração desse poder, pois é a oposição que fiscaliza, e sem fiscalização
não há democracia nem estado de direito, há três factos que, em
relação ao mandato cessante não podem ser ignorados:
1 - o autoritarismo saloio
e prepotente do poder instalado que culminou com o ‘assassinato de carácter’ dos
vereadores que integraram a equipa do PPD-PSD, substituídos por uma outra equipa
estranha mas ostensivamente afastada da campanha eleitoral;
2 - a oposição crítica
e musculada mas sempre fundamentada que foi persistentemente mantida por um dos vereadores eleitos pelo
CDS-PP;
3 - a aceitação resignada e conformista que, em cada reunião, foi sendo
manifestada pelo único vereador do PS.
Em relação à renovação do poder instalado decidida
pelo ‘eleitorado eleitor’ pouco há a dizer: a par da insatisfação pelo seu desempenho
sinalizada com uma acentuada diminuição de votos a favor do PPD-PSD, foi igualmente
dada a indicação de que neste momento a oposição ainda não é alternativa para
exercer o poder, e que ainda não chegou ao fim o caminho a percorrer para alcançar
esse objectivo, não só através da conquista de ‘eleitorado abstencionista’, mas
principalmente do ‘eleitorado eleitor’ que através de votos nulos ou brancos expressaram
a sua oposição aos programas submetidos a sufrágio.
No fundo, uma forma diferente de actuação por parte de todos
quantos tenham um coração que pulse pelas gentes da sua terra, que tenham nos
sucessos desta a sua paixão, nos seus desígnios o seu trabalho, e nas
injustiças que a vergastam a sua coragem - é que, sendo todos feitos do mesmo barro, nem todos têm os mesmos
moldes.
Como dizia Francisco Sá Carneiro, ‘saber
estar e romper a tempo, correr os riscos da adesão e da renúncia, pôr a
sinceridade das posições acima dos jogos pessoais – isso é a política que vale
a pena: aventura lúcida da prossecução do bem comum na linha sinceramente tida
como a mais adequada ao progresso dos Homens’.
É por isso, que só há uma forma de estar na oposição: dizer
mesmo, quando necessário, ‘coisas que incomodem’, mas obedecendo
sempre ao ideal da defesa intransigente dos interesses dos fregueses e dos
munícipes, muitas vezes em absoluta fractura com silêncios unanimistas que,
alheios à realidade, vão cumprindo o seu papel de veneradores de conformismo náufragos,
com perda de dignidade, de prestígio e de respeito, e envoltos em pomposas auras
que, assentes em discursos de circunstância que tresandam a decadência, apenas proclamam
grandezas amorfas e inócuas.
Se assim for, não é preciso que aconteça uma qualquer
hecatombe para se vencerem demagogias ou se evidenciarem mentiras... Porque
para que isso aconteça, é preciso muito pouco..., muito pouco mesmo; basta
apenas ter-se a razão ao lado... e cada vez mais munícipes, sempre e cada vez
mais cientes do que verdadeiramente se vai passando... implacavelmente... ainda
que silenciosamente.
Quanto às candidaturas
que obtiveram escolhas eleitorais importa dizer o seguinte: em relação ao PS, avançou
para estas eleições cometendo o capital pecado de pretender derrubar a oposição
concorrente em lugar de visar o desmoronamento do poder instalado ou seja, não se
apresentou como alternativa ao PPD-PSD mas sim ao CDS-PP, uma atitude claramente
demonstrativa de quem não tem qualquer interesse em governar.
Uma conduta que, a manter-se na assembleia
municipal, nenhum augúrio de incómodo traz para o executivo municipal, apesar
de neste órgão deliberativo o PPD-PSD, com 10 eleitos (a que acrescem 2
presidentes de junta) estar em minoria relativa face à oposição, onde o CDS-PP
tem 9 eleitos (a que acrescem 2 presidentes de junta) e o PS tem 2 eleitos.
Quanto ao CDS-PP recuperou o 2º lugar na
preferência do ‘eleitorado eleitor’, mantendo-se no executivo municipal isoladamente
na oposição, onde passa a ter três elementos nas reuniões para apreciar,
discutir e votar a actividade municipal, lado a lado com os quatro eleitos pelo
PPD-PSD, em clara viagem descendente.
Em termos de balanço, apenas duas ideias: não foi
por muito que o PPD-PSD escapou à derrota e o CDS-PP só pode queixar-se de si
próprio por não ter conseguido fazer o pouco que lhe faltou para as ambicionadas victórias, quer para a assembleia de freguesia de Oliveira do Bairro quer para a câmara municipal.
Porque, em bom rigor, o que destas eleições
emerge é que havendo vencidos, não houve um claro vencedor que possa, hoje, ser considerado um super homem da política: é certo que para a
câmara municipal a candidatura ganhadora obteve mais 731 votos do que a que lhe seguiu, e por isso
mesmo irá continuar a governar os destinos do concelho; mas este não deixa de
ser um resultado tristonho e sem brilho, onde a aguardada exultação pela (muita, é verdade, mas pelos vistos não idolatrada)
obra feita e o endeusamento de uma qualquer personalidade não tiveram, afinal, o tão esperado reconhecimento do ‘eleitorado
eleitor’.
Reflexão e autocrítica são pois as duas palavras que, nos próximos quatro anos ficará a saber-se se fazem parte do léxico dos contendores partidários concelhios, sob pena de também aqui, em Oliveira do Bairro, poderem ser surpreendidos, e quiçá ultrapassados, por um qualquer 'movimento político' que entretanto se organize e dê vida a uma alternativa que cada vez começa a ganhar mais espaço por este país fora.
No fundo, o que há a concluir é que decorridos
oito anos, Mário João Oliveira ainda não conseguiu o reconhecimento do estilo, das
ideias e dos princípios que, no exercício simultâneo dos cargos público
(presidente da câmara) e privado (administrador de empresas de um dos maiores
grupos económicos do concelho) vai aplicando, num município cujo eleitorado não
só dá mostras de continuar a estranhar a mudança, mas principalmente demora tempo
demais a entranhá-la.
Ao cabo e ao resto, à proactividade do presidente
da câmara, o ‘eleitorado eleitor’ responde com uma reactividade muito tardia,
mas que já augura uma inversão de ciclo num futuro talvez mais próximo do que ainda há poucos anos seria inimaginável.