Os portugueses andam,
macambúzios, cabeça no chão e cabelos em pé, somos dos mais tristinhos da
Europa e do Mundo.
Por causa da austeridade, famílias falidas, casas
penhoradas, casais postos na rua.
Temos uma lástima de políticos e somos nós
próprios uma lástima. Tristes, porque não nos vemos mais livres da mão
estendida a tudo e a todos. Na Diocese de Braga houve corrida à Caritas, o nº aumentou
65%.
Além de tristes pela crise e
carga de impostos, pelos filhos sem pão e velhos sem dinheiro para remédios,
por causa dos malfadados cortes, somos também o país mais pessimista da UE. Em
pouca coisa já acreditámos. Já nem em milagres. Olhamos
para o futuro e só vimos nuvens sem clareiras, o futuro é coisa longínqua.
Tristes pelo exército de desempregados, andamos zangados com a vida,
desconfiamos dos políticos (só 9% acreditam) e não vemos que os sindicatos
mereçam mais crédito.
No fundo, a maior parte acredita que já caiu no inferno,
que é o limiar da pobreza. Dentro de poucos anos, Portugal será o país de mais
desigualdades, segundo estudo internacional, sinal de que continua a classe
média a pagar a crise, enquanto ainda há para aí muita gente que não deu grande
coisa ou mesmo nada para o sacrifício: Ministros, Secretários de Estado, o
exército dos assessores, e nas pensões os juízes do Tribunal Constitucional e
antigos políticos.
Tristes, porque há menos
crianças e agora até os casais inférteis estão a abandonar os tratamentos por
falta de dinheiro. Tristes, que nem a campanha eleitoral alegra, porque se
pressente, em todas as versões, muito de farsa, folclore, hipocrisia, desavergonhada
caça ao voto, gente que vai ser presidente toda a vida. Os partidos não
corrigem a lei, nem querem. Tudo à mercê da interpretação da lei, a justiça não
foi igual para todos os dinossauros.
Há gente que só fala ao povo neste tempo
de mentiras e slogans bonitos… e tudo isto é fonte de tristezas.
E de revolta.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 19 de Setembro de 2013