quinta-feira, 19 de setembro de 2013

TRISTES E CÉPTICOS


Os portugueses andam, macambúzios, cabeça no chão e cabelos em pé, somos dos mais tristinhos da Europa e do Mundo

Por causa da austeridade, famílias falidas, casas penhoradas, casais postos na rua. 

Temos uma lástima de políticos e somos nós próprios uma lástima. Tristes, porque não nos vemos mais livres da mão estendida a tudo e a todos. Na Diocese de Braga houve corrida à Caritas, o nº aumentou 65%. 

Com um trabalho silencioso, mas eficaz, a Igreja vai salvando a economia social, substituindo-se ao Estado. Isto mesmo foi justamente realçado na última sexta-feira na inauguração na Unidade de Cuidados Continuados da Misericórdia de O. do Bairro, um edifício notável e uma resposta certa.

Além de tristes pela crise e carga de impostos, pelos filhos sem pão e velhos sem dinheiro para remédios, por causa dos malfadados cortes, somos também o país mais pessimista da UE. Em pouca coisa já acreditámos. Já nem em milagres. Olhamos para o futuro e só vimos nuvens sem clareiras, o futuro é coisa longínqua. Tristes pelo exército de desempregados, andamos zangados com a vida, desconfiamos dos políticos (só 9% acreditam) e não vemos que os sindicatos mereçam mais crédito. 

No fundo, a maior parte acredita que já caiu no inferno, que é o limiar da pobreza. Dentro de poucos anos, Portugal será o país de mais desigualdades, segundo estudo internacional, sinal de que continua a classe média a pagar a crise, enquanto ainda há para aí muita gente que não deu grande coisa ou mesmo nada para o sacrifício: Ministros, Secretários de Estado, o exército dos assessores, e nas pensões os juízes do Tribunal Constitucional e antigos políticos.

Tristes, porque há menos crianças e agora até os casais inférteis estão a abandonar os tratamentos por falta de dinheiro. Tristes, que nem a campanha eleitoral alegra, porque se pressente, em todas as versões, muito de farsa, folclore, hipocrisia, desavergonhada caça ao voto, gente que vai ser presidente toda a vida. Os partidos não corrigem a lei, nem querem. Tudo à mercê da interpretação da lei, a justiça não foi igual para todos os dinossauros. 

Há gente que só fala ao povo neste tempo de mentiras e slogans bonitos… e tudo isto é fonte de tristezas. 

E de revolta. 

Armor Pires Mota, no  'Jornal da Bairrada' de 19 de Setembro de 2013