Havendo
um tempo para tudo, foi a chegada desse tempo que fez com que tivesse
apresentado ao senhor presidente da câmara municipal, a quem apresento os meus
cumprimentos extensivos a todos os senhores vereadores, a minha renúncia ao mandato para o qual fui eleito.
Uma
renúncia que operou por razões de consciência, de
tranquilidade moral e de ética política, e que decidi comungar com a assembleia municipal, porque foi aqui que me foi conferida posse para o
exercício a que pus termo.
Nesta hora da saída, não posso deixar de reconhecer
que me sinto absolutamente gratificado por ter tido neste quartel de actividade
política, a oportunidade de conhecer alguns homens e mulheres extraordinários, que deram e dão muito de si, às nossas
colectividades, aos nossos lugares, às
nossas freguesias e ao nosso concelho:
É a este escasso número de militantes Oliveirenses, e só a estes, que agradeço tudo o que
me ensinaram;
É também por eles que a minha intervenção como cidadão
continuará, com a mesma dedicação, a concretizar-se em obediência aos
mesmos valores, dizendo o que houver para ser dito na defesa dos interesses dos
fregueses e dos munícipes deste concelho.
São Pessoas que me conhecem bem, e que sabem como a
par da igualdade e do respeito recíprocos, prezo como sempre prezei, os
princípios da representatividade e do pluralismo político;
Mulheres e Homens que também sabem, que no reconhecimento que faço da
imperfeição da natureza humana, procuro sempre ter uma atitude de aprendizagem
e de melhoria contínuas.
Munícipes que sabem ainda, que valorizo mais os princípios
e os valores do que o êxito, porque o trilho político que percorro é aquele que ensina a preocupar-me com os silêncios daqueles que sei que são bons, e não com os gritos dos que
se dizem bons.
Um trilho que tenho calcorreado
em coerência, na recusa permanente do caminho fácil da acomodação, e erguendo
sempre a bandeira da liberdade de pensamento e da sujeição a convicções.
Ser livre é uma condição, não é um resultado; ser
livre é um pressuposto, não uma finalidade.
Não se é livre, sem mais; é-se livre para pensar e
agir, para fazer alguma coisa.
Livre para fazer o que a liberdade nos permite, seja nas
nossas vidas pessoais, seja nos projectos públicos que sonhamos e queremos
construir.
É dessa liberdade activa que nasce o pluralismo
democrático, que a assembleia municipal tão bem espelha e representa.
Porque uma declaração de renúncia a um mandato não é
um obituário político, não renunciei ao mandato para me despedir do que quer,
ou de quem quer que seja:
Porque, em
verdade digo, só os que não me conhecem é que não sabem que sempre decidi
de acordo com a minha consciência, e com a firme convicção de cumprir, em
perfeita liberdade, o compromisso político assumido perante quem, em cada acto
eleitoral, me confiou o seu voto.
Como simples munícipe, estou aqui para falar do futuro,
e para dizer que no exercício da actividade política deve prevalecer a nobreza,
e o reconhecimento, sem tiques de autismo ou intolerância, com respeito pelas
posições divergentes e pela ideia de que todos têm contributos válidos a
prestar, independentemente da cor partidária pela qual são eleitos.
Porque só
assim deixará de haver quem tenha da
democracia a prosaica concepção de que esta começa no umbigo e acaba na soleira
da porta!
Porque só
assim deixará de haver quem afecte o seu
pensamento pessoal à governação política, e quem contorne as situações de
conflito de interesses de acordo com aquilo que a lei impõe e nunca por
imperativo ético!
Porque se
assim não fôr deixará, a curto prazo, de haver quem, nesses órgãos, lute por ideias e
apresente propostas em prol das causas entendidas como justas e meritórias,
numa caminhada que todos sabemos ser longa e difícil.
Durante o exercício do mandato que fiz cessar, vivi
com intensidade todos os momentos, especialmente aqueles em que pugnei pela participação
da oposição na administração do poder, exigindo-se
a ambas que funcionem responsavelmente, pois é a
oposição que fiscaliza, e sem fiscalização, nem há democracia nem estado de
direito.
No
entanto, por força de uma canhestra e enviesada interpretação da lei, estes
factos jamais escreverão a história da memória colectiva do concelho.
Quantas vezes solitária, esta foi uma viagem que realizei muitas vezes porque continuo a acreditar que só deste modo podem, de forma robusta, afirmar-se os mais diversos pontos de vista, numa cooperação
institucional profícua e vantajosa.
Apesar de incompreendido, não saí a mal com quem quer
que seja, e muito menos com o próprio município.
Mas porque não tenho amnésia, foi de consciência tranquila que decidi, simbolicamente, prescindir do recebimento de uma das senhas de
presença a que ainda tenho direito.
Sei que é um contributo modesto, mas talvez suficiente
para que deixe de ser comunicado por escrito, aos vereadores da oposição, que
as cópias da documentação das ordens do dia não são enviadas ‘atendendo, inclusive, aos custos que isso
mesmo acarreta’.
Para terminar, apenas me cumpre agradecer a todos a
paciência que tiveram para me aturar:
Aos senhores presidentes e membros das juntas e assembleias de freguesia, e aos representantes das estruturas partidárias do
concelho, o meu ‘bem-hajam’ pelo vosso empenho e dedicação;
Aos meus ex-colegas vereadores, aos técnicos
municipais e aos representantes da imprensa, as minhas sinceras desculpas por
qualquer atitude menos reflectida que por mim possa ter sido tomada, ou por
qualquer declaração menos ponderada que por mim possa ter sido proferida.
Ao senhor presidente da assembleia municipal apresento os meus mais respeitosos agradecimentos, que através da sua pessoa, pretendo extensivos a todos os membros deste órgão.
E por fim, a todos os munícipes do concelho, o meu
‘Muito Obrigado’ e até um dia: foi um enorme
privilégio representar-vos como vereador da câmara municipal, como já havia
sido uma grande honra representar-vos como presidente da assembleia da
maior freguesia do concelho, e como membro desta Assembleia Municipal.
A História pertence a todos, mesmo aos que a não
viveram: é também por isso que estou certo que com a sabedoria própria dos mais
sensatos, as populações e os autarcas de Oliveira do Bairro garantirão, com
certeza, um futuro melhor e mais equilibrado, afinal um desígnio fascinante
para todos.
Publicado no 'Jornal da Bairrada' de 4 de Julho de 2013
Publicado no 'Jornal da Bairrada' de 4 de Julho de 2013