quinta-feira, 4 de julho de 2013

UMA RENÚNCIA NÃO É UM OBITUÁRIO

Havendo um tempo para tudo, foi a chegada desse tempo que fez com que tivesse apresentado ao senhor presidente da câmara municipal, a quem apresento os meus cumprimentos extensivos a todos os senhores vereadores, a minha renúncia ao mandato para o qual fui eleito.

Uma renúncia que operou por razões de consciência, de tranquilidade moral e de ética política, e que decidi comungar com a assembleia municipal, porque foi aqui que me foi conferida posse para o exercício a que pus termo.

Nesta hora da saída, não posso deixar de reconhecer que me sinto absolutamente gratificado por ter tido neste quartel de actividade política, a oportunidade de conhecer alguns homens e mulheres extraordinários, que deram e dão muito de si, às nossas colectividades, aos nossos lugares, às nossas freguesias e ao nosso concelho:

É a este escasso número de militantes Oliveirenses, e só a estes, que agradeço tudo o que me ensinaram;

É também por eles que a minha intervenção como cidadão continuará, com a mesma dedicação, a concretizar-se em obediência aos mesmos valores, dizendo o que houver para ser dito na defesa dos interesses dos fregueses e dos munícipes deste concelho.

São Pessoas que me conhecem bem, e que sabem como a par da igualdade e do respeito recíprocos, prezo como sempre prezei, os princípios da representatividade e do pluralismo político;

Mulheres e Homens que também sabem, que no reconhecimento que faço da imperfeição da natureza humana, procuro sempre ter uma atitude de aprendizagem e de melhoria contínuas.

Munícipes que sabem ainda, que valorizo mais os princípios e os valores do que o êxito, porque o trilho político que percorro é aquele que ensina a preocupar-me com os silêncios daqueles que sei que são bons, e não com os gritos dos que se dizem bons.

Um trilho que tenho calcorreado em coerência, na recusa permanente do caminho fácil da acomodação, e erguendo sempre a bandeira da liberdade de pensamento e da sujeição a convicções.

Ser livre é uma condição, não é um resultado; ser livre é um pressuposto, não uma finalidade.

Não se é livre, sem mais; é-se livre para pensar e agir, para fazer alguma coisa.

Livre para fazer o que a liberdade nos permite, seja nas nossas vidas pessoais, seja nos projectos públicos que sonhamos e queremos construir.

É dessa liberdade activa que nasce o pluralismo democrático, que a assembleia municipal tão bem espelha e representa.

Porque uma declaração de renúncia a um mandato não é um obituário político, não renunciei ao mandato para me despedir do que quer, ou de quem quer que seja:

Porque, em verdade digo, só os que não me conhecem é que não sabem que sempre decidi de acordo com a minha consciência, e com a firme convicção de cumprir, em perfeita liberdade, o compromisso político assumido perante quem, em cada acto eleitoral, me confiou o seu voto.

Como simples munícipe, estou aqui para falar do futuro, e para dizer que no exercício da actividade política deve prevalecer a nobreza, e o reconhecimento, sem tiques de autismo ou intolerância, com respeito pelas posições divergentes e pela ideia de que todos têm contributos válidos a prestar, independentemente da cor partidária pela qual são eleitos.

Porque só assim deixará de haver quem tenha da democracia a prosaica concepção de que esta começa no umbigo e acaba na soleira da porta!

Porque só assim deixará de haver quem afecte o seu pensamento pessoal à governação política, e quem contorne as situações de conflito de interesses de acordo com aquilo que a lei impõe e nunca por imperativo ético!

Porque se assim não fôr deixará, a curto prazo, de haver quem, nesses órgãos, lute por ideias e apresente propostas em prol das causas entendidas como justas e meritórias, numa caminhada que todos sabemos ser longa e difícil.

Durante o exercício do mandato que fiz cessar, vivi com intensidade todos os momentos, especialmente aqueles em que pugnei pela participação da oposição na administração do poder, exigindo-se a ambas que funcionem responsavelmente, pois é a oposição que fiscaliza, e sem fiscalização, nem há democracia nem estado de direito.

No entanto, por força de uma canhestra e enviesada interpretação da lei, estes factos jamais escreverão a história da memória colectiva do concelho. 

Quantas vezes solitária, esta foi uma viagem que realizei muitas vezes porque continuo a acreditar que só deste modo podem, de forma robusta, afirmar-se os mais diversos pontos de vista, numa cooperação institucional profícua e vantajosa.

Apesar de incompreendido, não saí a mal com quem quer que seja, e muito menos com o próprio município.

Mas porque não tenho amnésia, foi de consciência tranquila que decidi, simbolicamente, prescindir do recebimento de uma das senhas de presença a que ainda tenho direito.

Sei que é um contributo modesto, mas talvez suficiente para que deixe de ser comunicado por escrito, aos vereadores da oposição, que as cópias da documentação das ordens do dia não são enviadas ‘atendendo, inclusive, aos custos que isso mesmo acarreta’.

Para terminar, apenas me cumpre agradecer a todos a paciência que tiveram para me aturar:

Aos senhores presidentes e membros das juntas e assembleias de freguesia, e aos representantes das estruturas partidárias do concelho, o meu ‘bem-hajam’ pelo vosso empenho e dedicação;

Aos meus ex-colegas vereadores, aos técnicos municipais e aos representantes da imprensa, as minhas sinceras desculpas por qualquer atitude menos reflectida que por mim possa ter sido tomada, ou por qualquer declaração menos ponderada que por mim possa ter sido proferida.

Ao senhor presidente da assembleia municipal apresento os meus mais respeitosos agradecimentos, que através da sua pessoa, pretendo extensivos a todos os membros deste órgão.

E por fim, a todos os munícipes do concelho, o meu ‘Muito Obrigado’ e até um dia: foi um enorme privilégio representar-vos como vereador da câmara municipal, como já havia sido uma grande honra representar-vos como presidente da assembleia da maior freguesia do concelho, e como membro desta Assembleia Municipal.

A História pertence a todos, mesmo aos que a não viveram: é também por isso que estou certo que com a sabedoria própria dos mais sensatos, as populações e os autarcas de Oliveira do Bairro garantirão, com certeza, um futuro melhor e mais equilibrado, afinal um desígnio fascinante para todos.

Publicado no 'Jornal da Bairrada' de 4 de Julho de 2013