Na semana passada, Vítor Gaspar pediu para tomarmos “nota” – este era o “momento do crescimento”. É difícil acreditar no credo de Gaspar, porque inverter a queda da economia e restaurar a confiança é muito difícil nesta fase, com esta taxa de desemprego.
As medidas anunciadas por Gaspar (o famoso supercrédito do IRC) dificilmente servirão de corda segura para resgatar a economia do fundo do poço onde chegámos.
Mas isso não aconteceu. Os exportadores alemães começaram a tornar-se mais pessimistas e na quinta-feira, a câmara de comércio e indústria alemã apresentou um estudo em que admite que as empresas exportadoras estão agora muito menos optimistas do que o estavam há pouco tempo atrás. “Previsivelmente, a dinâmica das exportações será menor nos próximos meses”, escreve a câmara do comércio e indústria, baseada num inquérito a 25 mil empresas.
A recessão na zona euro e a estagnação prevista pelo Eurostat estão a alarmar a Alemanha – três anos depois do início da crise na zona euro, a iminência da chegada da crise a Berlim é paradoxalmente uma boa notícia. As políticas europeias só poderão mudar quando Berlim for atingido no coração exportador – e Berlim só muda quando lhe forem ao bolso. Uma perspectiva cinzenta para a economia alemã (em derrocada por falta de europeus em condições de lhe comprar produtos) é uma excelente notícia para os portugueses e para todas as periferias a braços com os programas de austeridade.
A câmara que junta os comerciantes e industriais alemães admite que a incerteza nunca foi tão grande desde 2010 – enquanto 41 por cento das empresas inquiridas apontam como o maior risco para os seus negócios a fraca procura externa.
Não foi por causa dos bons ofícios de Gaspar – nem da sua veneração face a Berlim – que o banco KfW, o banco de fomento alemão, se prepara para fornecer crédito barato a Portugal. Vai fazê-lo a todos os países da periferia, incluindo a Grécia – de que Portugal se quis distanciar – e Espanha.
Para se salvar a si própria, naturalmente e não para premiar “o bom aluno” graxista e totó.
Ana Sá Lopes, aqui